A história de Isaque e a confiança nas promessas de Deus

Caravana de camelos no deserto

Se promessa é divida, como diz o provérbio popular, há pessoas que estão grandemente endividadas. Como fazem promessas! O filho promete para o pai não usar mais drogas, e usa. O marido promete para a família que não irá mais beber, e bebe. A namorada promete para Deus e para si mesma que não fará sexo com o namorado antes do casamento, e faz. A filha promete que não vai mais sair com aquelas “amigas”, e sai. A mulher promete que não vai mais ter crises de ciúme, e tem. Há, sem dúvida, mais promessas não cumpridas do que cumpridas. O mesmo não ocorre com Deus. Ele, sim, cumpre o que diz, sempre. O capítulo 26 do livro de Gênesis, deixa isso muito claro!

Apareceu-lhe o SENHOR e disse: Não desças ao Egito. Fica na terra que eu te disser; habita nela, e serei contigo e te abençoarei. (Gn 26:2-3a)

Analisando o relato bíblico

Fatos sobre a vida de Isaque podem ser lidos nos capítulos 21, 22, 24, 25, 26, 27, 28 e 35 do livro de Gênesis. A sua história transcorre paralelamente à história de outras pessoas: Abraão, Sara, Hagar, Ismael, Rebeca, Jacó e Esaú. De todos esses oito capítulos, o que mais gasta tempo tratando a respeito de Isaque, sem interrupções, é o capitulo 26. Ele pinta um retrato honesto do filho de Abraão e Sara. Realça tanto os defeitos quanto as suas virtudes. A ênfase desse capítulo é: Deus cumpre o que diz, apesar de nossas imperfeições e limitações.

1. Se Deus cumpre o que diz, não há motivo para insubmissão:

Uma grande fome assolou a terra. A crise atingiu a todos. Nem mesmo a casa de Isaque, o filho de Abraão, o amigo de Deus, ficou livre dela! Os filhos de Abraão também sofrem! A escassez era absoluta. Faltava o básico. Diante disso, Isaque arrumou as malas, pegou a mulher e partiu para Gerar. Teve de viajar pouco mais de cem quilômetros. Tudo indica que o plano de Isaque era descer para o Egito. “Grandes contingentes de semitas estavam migrando para o Egito”. Deus, porém, o proibiu de seguir avante. Sem rodeios, ordenou-lhe: Não desças ao Egito. Habita na terra que eu te disser (Gn 26:2). Não se deve pensar que essa ordem de Deus era uma ordem fácil de se atender. Não era mesmo! “Nada era mais difícil do que permanecer em um lugar, para morrer de fome, quando havia cereal no Egito”. Sendo assim, a ordem de Deus para Isaque ficar em Gerar, terra da sequidão, parecia ilógica, para não dizer absurda. Mas Isaque resolveu submeter-se à direção divina, sem questionar, sem argumentar e sem murmurar! A sua singela e imediata obediência narrada da seguinte maneira: Assim, habitou Isaque em Gerar (Gn 26:6). Ele abriu mão do próprio plano, em função do plano de Deus. Que ousadia espiritual!

2. Se Deus cumpre o que diz, não há motivo para insegurança:

A narrativa continua. E uma admirável demonstração de obediência é seguida por uma descarada manifestação de covardia. Ao chegar a Gerar, a atenção de todos se voltou para a mulher dele. Todo mundo queria saber quem era aquela linda mulher! Isaque disse: É minha irmã (Gn 26:7a). O que levou Isaque a mentir? O medo de que os pagãos o matassem para ficar com sua bela mulher. O que Deus tinha acabado de dizer a Isaque? Isto: ...peregrina nesta terra, e serei contigo e te abençoarei (Gn 26:3a). Diante disso, não havia motivo para receio algum. Pior do que o medo de Isaque foi o seu egoísmo. Para salvar a própria vida, Isaque expôs a vida da própria mulher. Desde então, ela corria sérios riscos de sofrer abusos de todo tipo (Gn 26:10). Como Isaque pôde se portar de maneira tão insana e covarde?! Ainda bem que sua farsa não durou muito tempo. A sua mentira foi casualmente descoberta e severamente repreendida por Abimeleque, que parecia possuir uma conceito de casamento bem mais elevado e bem mais sólido. Deveria ser o contrário! Afinal, Isaque era crente em Deus! Uma triste reprimenda!

3. Se Deus cumpre o que diz, não há motivo para inatividade:

Após retratar a fraqueza de Isaque, a narrativa destaca a sua iniciativa. Isaque era um homem de caráter tranqüilo. Gostava de meditar (Gn 24:63). Mas não era uma pessoa passiva! A pessoa passiva não investe. A pessoa passiva não semeia! Isaque investiu e semeou! Em vez de se entregar ao pessimismo, ele se entregou ao trabalho: Semeou Isaque naquela terra (Gn 26:12b). O normal seria não semear nada. Afinal, a terra era árida. Não havia sinal de chuva. Enfim, o cenário era desfavorável. Nada disso, porém, impediu Isaque de semear. O resultado foi estrondoso: Houve uma farta colheita: ...e, no mesmo ano, recolheu cento por um (Gn 26:13a). Isaque e seus vizinhos tinham acesso ao mesmo solo e dependiam do mesmo sol e da mesma chuva, mas as colheitas de Isaque eram mais fartas do que as deles. Por qual motivo? A resposta é encontra na seqüência do versículo: ...porque o Senhor o abençoava (Gn 26:13). O fruto da terra não era fruto do acaso ou da sorte, mas da bênção de Deus na vida de Isaque! Quando Deus lhe disse para ficar em Gerar, prometeu protegê-lo e abençoá-lo. O Senhor cumpriu a promessa. Se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo (II Tm 2:13).

4. Se Deus cumpre o que diz, não há motivo para revanchismo:

Em pouco tempo, Isaque tornou-se muito rico: Enriqueceu-se o homem, prosperou, ficou riquíssimo; possuía ovelhas e bois e grande número de servos (Gn 26:14a). A sua riqueza, então, começou a incomodar bastante: ...de maneira que os filisteus lhe tinham inveja (Gn 26:14b). A inveja desses filisteus era de natureza agressiva: ...e, por isso, lhe entulharam todos os poços que os servos de seu pai haviam cavado, nos dias de Abraão, enchendo-os de terra (Gn 26:15). Por causa de suas conquistas, Isaque foi também rejeitado. Acabou sendo expulso por Abimeleque, que passou a sentir-se ameaçado com a presença dele. Isaque, então, partiu para os vales de Gerar. Após enfrentar inveja e rejeição, enfrentou seguidas e injustas contendas (Gn 26:19- 21). Isaque era um homem pacífico e paciente. Não gostava de conflitos e confrontos. Ele soube enfrentar a inveja, a rejeição e as contendas, sem deixar o coração se amargurar. O capítulo se encerra não com revanchismo, mas com reconciliação. Deus cumpre o que diz! Ao final desta parte, vale a pena pensar um pouco numa questão: Gerar foi um lugar não somente de bênção, mas também de tensões para a vida de Isaque. O fato de estar no lugar onde Deus o mandou estar não o livrou das tensões. Assim é a vida de todos os que servem a Deus, em todos os tempos e em todos os locais. Os períodos de bênçãos se misturam com os períodos de tensões. Há dias ensolarados e há dias tenebrosos. Será assim até a volta de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão (Mt 1:1), o pai de Isaque. Mas, mesmo assim, não há razão para temor: o Deus de Isaque está ao nosso lado e jamais se omite!

Aplicando o conhecimento bíblico

1. Se você crê que Deus cumpre o que diz, não reaja com violência.

Qual deve ser a nossa reação, quando somos objetos de inveja, rejeição e contenda? A nossa reação deve ser a de Isaque. A reação cristã ao mal – inveja, rejeição, contenda é, naturalmente, a resistência, não uma resistência violenta, mas a resistência amorosa e pacífica. Devemos amar os que nos perseguem (Mt 5:44), nos odeiam (Lc 6:27), nos amaldiçoam, nos maltratam (Lc 6.28), nos bate no rosto e nos tiram a capa (Lc 6:29). Devemos reagir a tudo isso com amor. Quando temos outra reação, saímos do lado de Jesus, que tanto ensinou quanto viveu a não-violência.

2. Se você crê que Deus cumpre o que diz, não reaja com covardia.

Há dois tipos de medo: o bom e o ruim. O medo bom nos protege, pois nos traz para perto do Senhor (II Cr 20:3). Já o medo ruim nos acovarda, pois nos leva para longe do Senhor (Gn 3:8-10). O medo bom nos livra do pecado e nos torna mais santos. O medo ruim nos leva ao pecado e nos torna imorais. O medo ruim fez de Isaque um homem mentiroso, egoísta e covarde. Por causa do medo ruim, Isaque negou os laços conjugais com Rebeca, a sua esposa. O medo bom é sempre bem-vindo! E o medo ruim? Que Deus nos livre dele.

3. Se você crê que Deus cumpre o que diz, não reaja com teimosia.

Para se livrar da grande fome, o Egito era a saída mais óbvia. O Egito, porém, como vimos acima, não fazia parte da agenda de Deus para Isaque. Este, então, abortou os planos de descer para lá. Se você quer ter uma vida que agrade a Deus, respeite as escolhas e as direções dele para a sua vida. Não teime em descer para o Egito. Quem tem juízo não teima com Deus, o Senhor absoluto de tudo e de todos. Não seja como os ímpios, em cujos planos não existe lugar para Deus (Sl 10:4). Peça: ...faze-me viver, Senhor, conforme as tuas ordenanças (Sl 119:149). Diga: ...ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus (Sl 143:10).

Concluindo

Deus é Deus de promessas. A sua palavra começa, continua e termina com promessas. Há grandessíssimas e preciosas promessas (II Pe 1:4) para os aflitos, para os arrependidos, para os contritos, para os humildes, para os misericordiosos, para os obedientes, para os pequeninos, para os pobres, para os que oram, para os retos, para os santos, para os tentados, para os trabalhadores, para as viúvas, para os órfãos. As, promessas são de bênçãos, de consolo, de dons espirituais, de fortaleza, de limpeza, de longa vida, de paz, de misericórdia, de perdão, de preservação, de progresso, de proteção, de sabedoria, de salvação. E o melhor de tudo é que o Senhor, no tempo certo, irá cumprir todas, uma por uma!

Página inicial desta série

Nenhum comentário:

Todos os comentários serão moderados. Comentários com conteúdo fora do assunto ou do contexto, não serão publicados, assim como comentários ofensivos ao autor.

Tecnologia do Blogger.