A torre de babel e a falência dos projetos humanos
Nos estudos anteriores desta série, estudamos a respeito de ações humanas mal sucedidas: a de Adão e Eva, que quiseram saber mais do que lhes convinha; a de Caim, que matou o próprio irmão, e a da massa humana que se corrompeu, até ser destruída no dilúvio. Cada escolha errada foi um projeto falido. O relato de Gn 11:1-9, que é base deste estudo, apresenta mais um caso de falência: o projeto de construção de uma cidade pelos descendentes de Noé. A proposta é apresentar o ponto de vista bíblico sobre o que levou esse projeto à decadência e buscar orientações, na palavra de Deus, para a boa condução de nossos projetos de vida.
e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer. Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de outro. (Gn 11:6-7)
Analisando o relato Bíblico
No estudo anterior, "Um novo começo", aprendemos que Deus abençoou Noé e sua família e ordenou-lhes que se multiplicassem e se espalhassem pela terra (Gn 9:1,7). O estudo de hoje nos mostrará que os descendentes de Noé, contrariando a ordem divina, decidiram instalar-se na terra de Sinar (Gn 11:2) – antigo nome da Babilônia – e construir, ali, uma cidade com uma torre. Contudo, Deus interrompeu esse projeto rebelde. Vamos, então, analisar esse episódio, que nos mostra, em primeiro lugar, a arrogância dos projetos humanos e, em segundo lugar, a decadência desses projetos, pela intervenção de Deus, e extrair dele ensinos importantes para a nossa vida.1. A arrogância dos projetos humanos
Os descendentes de Noé, que haviam encontrado a planície de Sinar, eram unidos pelo uso de uma mesma língua e comungavam os mesmos costumes. Sobre isso, o texto nos diz: E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala (Gn 11:1). Esses elementos em comum permitiam que as pessoas se entendessem bem e se acomodassem ao seu estilo de vida; além disso, eram fundamentais para o sucesso do seu projeto. Assim, em oposição à ordem de Deus de se multiplicar e povoar a terra, aquele povo escolheu manter-se fechado. Não bastasse estar unido pela língua, o povo de Sinar estava unido pelos mesmos propósitos: E disseram uns aos outros: Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem (...), edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra (Gn 11:3-4).Percebemos que os desejos comuns àquela gente eram fazer algo grandioso, tornar-se um povo poderoso e permanecer onde estava. Foi em torno desses propósitos que os habitantes de Sinar se uniram para executar seu projeto. Assim, a despeito de valer-se de atitudes positivas, como a cooperação, a coragem e o uso de seu potencial físico e intelectual, aquele povo tinha uma intenção arrogante: conquistar glória para si: ...tornemos célebre o nosso nome (v. 4). Não havia lugar para Deus no projeto de vida daquelas pessoas.
Nesse sentido, ao contrário do que poderíamos pensar, o propósito de construírem uma cidade, permanecerem naquela planície, falando a mesma língua, não era benéfico, pois a união, ainda que não fosse negativa em si mesma, seria usada para mantê-las distantes dos propósitos divinos. Deus lhes havia dado liberdade para escolherem seu rumo, apesar de lhes ter ordenado que se espalhassem, e lhes havia dado toda a capacidade que possuíam para executarem projetos; entretanto, estavam usando a liberdade e as capacidades que o Senhor lhes dera para tomarem para si a glória que só ele merece. O ser humano, tomado de arrogância, ousava tornar-se autor e protagonista de sua história. Como símbolo de sua soberba, começava a erguer uma torre que chegasse até os céus.
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2. A decadência dos projetos humanos
Ao construir a torre, os homens de Sinar queriam provocar a descida de alguma divindade. Segundo a crença da época, os deuses desciam à terra, através de torres como aquela, para abençoar o povo. O topo da torre, onde ficava o santuário, era considerado a “entrada dos deuses”. Daí se percebe o tamanho da ofensa feita a Deus, que desceu, não para se rebaixar ou se conformar à vontade humana, mas para executar juízo sobre aquele povo rebelde (vv. 5-8). O Senhor, então, impediu a continuidade da obra, confundindo a língua do povo e espalhando-o por toda a terra (Gn 11:8-9). É importante entendermos que a ação de Deus não ocorreu pelo desejo de progresso do ser humano, mas pela autossuficiência e pela prepotência deste. Não era o trabalho humano em si a causa do juízo de Deus, mas a motivação com que era levado a efeito. O mal consistia em que o projeto empreendido por aquelas pessoas estava na contramão da vontade de Deus.A decadência era, portanto, necessária. Deus precisava preservar o ser humano, e a maneira que escolheu foi desfazer a unidade que os descendentes de Noé queriam manter. Mas por que o Senhor quis preservar aquele povo? Em primeiro lugar, porque já havia um plano de salvação para a humanidade, que Deus cumpriria fielmente; em segundo lugar, porque o Senhor não tem prazer na destruição do ser humano e preferiu espalhá-lo a ter de destruí-lo ou a deixar que a finalização daquela obra levasse aquele povo a afundar-se definitivamente no pecado (v. 6). Deus preservou a humanidade de se perder em seus próprios projetos mal intencionados. Por isso, aquela cidade, conhecida como “portão de Deus”, tornou-se palco de confusão e passou a ser conhecida como Babel (Gn 11:9).
É curioso o fato de que o Deus da unidade tenha desfeito a união daquele povo. Acontece que o problema não era a união, mas a intenção arrogante das pessoas que promoviam aquela obra. De fato, nenhuma ação, por mais nobre que seja, justifica uma má intenção. O Senhor sabia o que motivava aquelas pessoas, e agiu com justiça, mas também com misericórdia. Assim, o que os descendentes de Noé não quiseram fazer espontaneamente, tiveram de fazer obrigatoriamente, pois ninguém pode zombar de Deus (Gl 6:7). O episódio da construção de Babel foi, portanto, a demonstração do progresso e do engrandecimento humano. Aquelas pessoas queriam tornar-se absolutamente independentes de Deus. Queriam o progresso, a estabilidade econômica, social e emocional, o orgulho pelas grandes conquistas, mas não queriam Deus. Tratava-se de uma sociedade de ações louváveis, de grandes ambições, mas completamente distante do seu criador. Seu potencial físico, intelectual e artístico a levaria a realizações tremendas (Gn 11:6), mas sua arrogância a destruiria.
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