A história de Jacó e o incansável amor de Deus

Jacó retorna para seu irmão Esaú e se encontram para fazerem as pazes

Discórdias entre marido e mulher: o pai ama mais um filho, a mãe ama mais o outro. Predileção, mentira, astúcia, farsa: armas carnais usadas para obter bênçãos de Deus. Junto a tudo isso, promessas de Deus de abençoar o mundo através dessa gente. Como? Diz um ditado popular: “Pau que nasce torto nunca se endireita“. Não se endireita? O estudo mostrará que o incansável amor de Deus endireita. Com paciência e amor, Deus muda a vida de Jacó, o enganador, que passa a se chamar Israel, o lutador, que deixa de lado a astúcia e passa a confiar nas promessas divinas.

E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra, porque te não deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito.

Analisando o texto Bíblico

Em Gênesis 25:19-34 e nos capítulos 27 a 35 é relatada a história do nascimento e da vida de Esaú e Jacó, filhos de Isaque e Rebeca. A vida dessa família é uma prova de que o amor de Deus é incansável. Tudo começou quando Isaque se encontrava velho, cego e cansado. Como legítimo representante da herança divina, ele planejou transmitir a bênção da primogenitura, que assegurava autoridade maior no sistema de vida patriarcal. Tradicionalmente, o filho mais velho, no caso, Esaú, seria o agraciado. Mas, neste episódio, seria diferente: Jacó receberia a bênção, como fruto da vontade de Deus (Gn 25:22-23).

1 - Uma horrível conspiração

Desde o ventre da mãe, Deus havia determinado: O Mais velho servirá ao mais moço. Isaque e Rebeca estavam conscientes da decisão divina, e deveriam tê-la compartilhado com seus filhos. Tudo indica que não o fizeram. Quando Isaque se preparou para transmitir a bênção divina, não se dirigiu a Jacó, mas a Esaú, o filho que mais amava (Gn 27:1-4). O pai amava mais um filho, a mãe mais o outro (Gn 25:28). A predileção é uma forma errada e explosiva de amar.

Veja que, na ocasião da bênção, Rebeca decidiu interferir. Ela usou de astúcia e mentira para enganar seu marido e assegurar a bênção para seu filho predileto (Gn 27:5-29). Tudo leva a crer que Isaque fez questão de ignorar que o mais velho serviria o menor. Por sua vez, Rebeca fez questão de não confiar na promessa divina que garantia a bênção a Jacó. Diante da determinação do marido de não cumprir o decreto divino, Rebeca armou uma fraude, corrompeu virtudes que eram parte de seu charme durante a juventude (Gn 24:15-20, 57-60). E Jacó, confiante na astúcia (Gn 27:35), fez tudo como combinado com a mãe.

Em vez de se arrepender, ficou com medo de ser descoberto (Gn 27:12). Esaú, por sua vez, mostrou-se irresponsável com a santidade da bênção, a ponto de negociá-la de forma vil (Gn 25:29-34). Com atos pecaminosos, a família patriarcal estava interferindo numa decisão divina. Jacó foi além: Com o apoio da mãe, envolveu Deus na farsa (Gn 27:20).

Em qualquer tempo, com qualquer pessoa ou família, isso é muito grave. Quem decide viver alheio à vontade de Deus, precisa saber que as consequências são dolorosas. Esaú passou a odiar Jacó e a planejar sua morte (Gn 27:41). A discórdia entre Isaque e Rebeca se acentuou (Gn 25:28, 27:1-45), a solidão de Rebeca cresceu, e ela nunca mais viu o filho predileto. De igual modo foi o sofrimento de Jacó, que perdeu a proteção familiar, em Canaã, e foi viver num lugar incerto, em Padã Arã (Gn 28:1-10).

Mas tudo isso ocorreu na família patriarcal?

Sim! A Bíblia nunca escondeu isso de ninguém. A Bíblia Sagrada é honesta! Ela mostra o desespero de Rebeca, ao ver seu esposo próximo à morte, ao ver seu filho Esaú bufando de ódio, ao ver Jacó fugindo sem pai, sem mãe e sem irmão. O que Deus faz com tudo isso? Ele tem promessas a cumprir com essa família e é fiel! Mas como torná-las realidade, no meio de intrigas e mentiras? Em sua soberania, Deus vai acompanhar Jacó, passo a passo, e, com seu incansável amor, vai ensinar ao futuro patriarca que, em vez da astúcia e da esperteza humana, é melhor confiar nas promessas divinas.

2 - Uma grandiosa transformação

Desolado na estrada para Padã Arã, Jacó viu Deus vir em sua direção, através de um sonho que lhe encheu de esperança. “Embora ele desejasse conquistar a promessa de Deus por meio de suas manobras enganadoras, o Senhor não abandonou seu propósito declarado.” Deus vai convencê-lo de que seus servos não prosperam com astúcias, mas com a sua bênção. Por isso, Jacó vê uma escada posta da terra ao céu, e, nela, anjos sobem e descem. Mas por cima dela estava o Senhor, no comando das ações, prometendo dar a Jacó as mesmas bênçãos dadas a Abraão e Isaque (Gn 28:13-15).

Deus promete estar sempre a seu lado, mudá-lo e cumprir nele seus santos propósitos (Gn 28:15). Jacó entendeu que, apesar de suas falhas, Deus estava ao seu lado (Gn 28:16). Animado, aproveitou o momento de promessas para “testar” Deus. “Será que ele cumprirá o que prometeu?” Jacó ainda não confiava plenamente em Deus. Então, fez um voto para por Deus à prova (Gn 28:20-22). Mas o Senhor entende Jacó. Deus sabe que quem está acostumado a usar o engano para obter vantagens e, de repente, começa a reconhecer a presença de Deus e prometer entregar-lhe o dízimo, está tendo um grande progresso espiritual. O incansável amor de Deus começa a dar frutos na vida de Jacó. Por isso, Deus não recriminou a iniciativa espiritual de seu servo.

Jacó chega à casa dos parentes de sua mãe. 

Os capítulos 29 a 31 narram a saga do futuro patriarca no extremo norte da Palestina. Ele trabalha sete anos para ter Raquel, sua preferida, como esposa. Mas, na hora das núpcias, seu tio Labão o engana, entregando-lhe a outra filha, Lia. Jacó foi enganado? Foi. Como os nossos pecados não confessados se voltam contra nós! De Deus não se zomba. Agora, Jacó sabe o que Isaque e Esaú sentiram. Deus ama Jacó, e, por isso, terá de alterá-lo profundamente. Ele foi obrigado a trabalhar mais sete anos e se casou com Raquel. Depois que formou uma grande família, rebanhos e empregados, decidiu voltar para Canaã. Teve de sair fugitivo e, depois, enfrentar seu sogro na estrada. Tudo terminou em paz.

Próximo a Canaã, Jacó estava com medo de Esaú, mas estava disposto a reparar seus erros. É um Jacó alterado pelo amor de Deus. Mas, antes de se acertar com Esaú, Jacó se acertou definitivamente com Deus: lutou com o Senhor a noite inteira. Em forma de homem, Deus deslocou a coxa de Jacó, que ficou manco. Então, “Jacó percebeu a sua própria fraqueza e a superioridade daquele que o tocou. No momento em que se submeteu, tornou-se um novo homem”. Deus o abençoou e lhe deu um novo nome: Israel.

É a certeza de vitória sobre seu relacionamento com Esaú e de triunfos por toda a sua vida. Jacó é aquele que prevalece pelo engano; Israel é aquele que prevalece pela luta com Deus e com os homens. Como bem disse John Stott, “Deus luta conosco para derrubar nossa obstinação; nós lutamos com Deus para buscar as suas promessas”, [ STOTT, John. A Bíblia toda, o ano todo: Meditações Diárias de Gênesis a Apocalipse. Viçosa: Ultimato, 2007.]. De enganador a lutador; de suplantador inescrupuloso a um homem disposto a ser governado por Deus. Ao perder para Deus, venceu a si mesmo. Uma vitória do incansável amor de Deus, que transformou Jacó no pai de doze filhos, as bases das doze tribos de Israel, dentre os quais, Judá, a raiz de Davi, de onde descenderia o Messias, o Salvador do mundo.

Aplicando o conhecimento Bíblico

1. O incansável amor de Deus supera nossas fragilidades.

Deus decidiu que Esaú serviria a Jacó (Rm 9:10-12). Isaque ignorou. Rebeca não confiou, como Sara (Gn 18:12). Deus, porém, se manteve firme, amando-os e mantendo suas promessas. “O Senhor dos exércitos não pode ser impedido pela oposição, fracasso ou falta de fé do homem. Ele é capaz de fazer a sua vontade prevalecer apesar de tudo”. Resultado: Rebeca reconheceu seu erro, Isaque deu a bênção a Jacó e ambos se uniram para proteger os filhos (Gn 27:42 a 28:9). O mesmo pode ocorrer com você: se você ainda usa armas humanas, o incansável amor de Deus está pronto a alcançá-lo, mudá-lo e transformá-lo numa pessoa que vive pela fé no Filho de Deus (Gl 2:20). Você está disposto a essa mudança?

2. O incansável amor de Deus oferece novas oportunidades.

Que faria você com Isaque, Rebeca, Jacó e Esaú, ao saber de suas atitudes pecaminosas? Desistiria ou os ajudaria a mudar e, depois, dar-lhes-ia nova oportunidade? Deus é amor! (I Jo 4:8) Ele sempre ajuda o pecador a rever seus atos, a mudar suas atitudes e lhe dá nova oportunidade. Fez isso com Jacó, Davi, Jonas, Pedro, Paulo, você. Ele sempre dá uma segunda chance aos fracassados. Todo ato de arrependimento é respondido por Deus com perdão (Sl 51:17; Jn 3:8-10). Jacó confessou ser indigno, e, por isso, Deus amou a Jacó (Gn 32:10; Rm 9:13). O teu amor, ó Senhor, alcança os céus, e a tua fidelidade chega até as nuvens (Sl 36:5). Um Deus tão amoroso assim merece o seu amor, você não acha?

3. O incansável amor de Deus restaura nossos relacionamentos.

Depois que confessou sua indignidade, Jacó orou: Livra-me, peço-te, das mãos de meu irmão, das mãos de Esaú, pois eu o temo, para que não venha ele matar-me, e a mãe com os filhos (Gn 32:11). Jacó era o principal culpado pelo ódio assassino do irmão. Não há argumentos, presentes, estratégias humanas que resolvam o ódio. Só Deus! Jacó sabe disso. Deus o ouviu e fez a paz entre eles. Você já causou grandes desavenças entre irmãos de sangue e da igreja? Já foi a causa de rompimentos, fraturas relacionais? Já causou profundo ressentimento ou ódio em alguém querido? Busque a restauração! Suas palavras e gestos são importantes, mas insuficientes. Clame a Deus! Ponha a crise no altar do Senhor. Só o Deus de amor restaura inteiramente os relacionamentos (Lc 15:25 32; Ef 2:14 e 16).

Concluindo

A Bíblia Sagrada é o livro mais vendido, lido e respeitado no mundo. Não é à toa. Ela não esconde os defeitos e as virtudes de suas personagens. Abraão, Isaque e Jacó são os patriarcas mais respeitados da história do povo de Deus. Todos erraram, se arrependeram, foram transformados, alcançaram promessas e morreram firmes na fé. Por seus méritos? Eles sabiam que não! Souberam que Deus os amou e os suportou incansavelmente, até que pudessem responder positivamente ao chamado divino e ser bênção para o mundo. E você? Você é sujeito aos mesmos erros e paixões que eles, mas Deus o ama incansavelmente, e pode mudá-lo profundamente, a fim de usá-lo poderosamente como bênção neste mundo (Tg 5:17 e 18). É a sua vez de ser abençoado por Deus!

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