O reinado de Roboão o reinado da divisão


“Quando os israelitas viram que o rei não ia atender o seu pedido, começaram a gritar: Abaixo Davi e a sua família! O que foi que eles já fizeram por nós? Homens de Israel, vamos para casa! Que Roboão cuide de si mesmo! E assim os israelitas foram para as suas casas” (I Rs 12:16 – NTLH)

O Reino Unido de Israel chegou ao fim, após cento e vinte anos de monarquia e três governos, Saul (1053- 1013 a.C.), Davi (1013- 973 a.C) e Salomão (973- 933 a.C). A partir do reinado de Davi, Israel conquistou muitos territórios, expandiu suas fronteiras, equipou seu exército e se enriqueceu bastante. Em nenhum outro tempo Israel conseguiu área tão extensa. No entanto, com o passar do tempo, passou a ter sérios problemas em lidar com o pecado nas alianças políticas, na administração pública, na religião, na família real e na vida particular dos reis.

Apesar de os profetas alertarem severamente os reis de Israel sobre o pecado, foi justamente por causa do pecado de Salomão e da dureza de Roboão, seu filho e herdeiro, que o reino unido se dividiu, em 933 a.C., como previu o profeta Aías (I Rs 11:26-32). O que causou a divisão? A causa imediata da divisão foi a insensata conduta de Roboão, sucessor de Salomão. A maneira cruel como Roboão tratou as coisas do reino foi desastrosa, e sua prepotência, sua insensibilidade e sua opressão deram um trágico desfecho à história de Israel: As dez tribos do norte seguiram a Jeroboão, filho de Nebate, e as duas tribos do sul ficaram leais a Roboão. O reino de Israel se dividiu e nunca mais as doze tribos estiveram sob o mesmo governo (II Cr 10:19).

A prepotência, a insensibilidade e a opressão para com as pessoas e a obra de Deus são pecados e podem causar divisão.

I - A história contada

Sempre houve tensão entre as tribos do norte e do sul de Israel. Saul teve sérios problemas em manter a unidade das doze tribos, no final de seu governo. Davi, por sua vez, foi declarado rei primeiramente nas tribos do norte e, posteriormente, nas tribos do sul, governando sobre as doze tribos. Salomão teve problemas com as tribos do norte, e, apesar de mantê-las ligadas à Judá, foi intolerante, aplicando-lhes elevadas taxas de tributo para sustentar um reinado que tinha contas altíssimas. As tribos do norte eram tratadas de maneira desprezível e exploradora. Com o passar do tempo, a rivalidade e a insatisfação apareceram e aumentaram.

A divisão da nação parecia inevitável, mas faltava a pessoa decidida e corajosa para comandá-la. Deus a levantou! O seu nome? Jeroboão, homem não somente inteligente, mas também trabalhador. Este, numa das suas viagens, encontrou-se com o profeta Aías, que lhe falou das intenções de Deus a respeito do reinado de Salomão: Eis que rasgarei o reino da mão de Salomão, e a ti darei dez tribos (I Rs 11:31). Disse-lhe ainda a razão da divisão: Vou fazer isso porque Salomão me rejeitou e tem adorado deuses estrangeiros (I Rs 11:33 – NTLH). Percebemos, portanto, que a idolatria foi o motivo principal da divisão do reinado davídico (I Rs 11:4-5).

Deus não tolerou o pecado e apostasia de Salomão. Por causa disso, ele seria julgado de maneira severa: Você quebrou a sua aliança comigo e desobedeceu aos meus mandamentos; por isso, eu vou tirar o reino de você e vou dá-lo a um dos seus oficiais (I Rs 11:11 – NTLH). Isto se daria apenas no reinado de Roboão, seu filho. A notícia da escolha de um novo rei espalhou-se rapidamente em Israel, e Jeroboão, temendo a morte, fugiu para o Egito, onde buscou apoio, junto a Sisaque I, rei do Egito: Por causa disso Salomão tentou matar Jeroboão, mas ele fugiu para o Egito. Jeroboão ficou com Sisaque, rei do Egito, e morou lá até a morte de Salomão (I Rs 11:40 – NTLH).

O conturbado governo de Roboão teve início com a morte de Salomão: Salomão morreu e foi sepultado na cidade de Davi e seu filho Roboão ficou no lugar dele como rei (I Rs 11:43 – NTLH). A principal tarefa do novo rei foi construir uma ampla aliança com as doze tribos que proporcionasse unidade estável ao reino. Sua atitude pareceu coerente, uma convocação para que toda a liderança do reino unido participasse de uma assembléia na cidade de Siquém, que era a cidade central e palco das grandes convocações públicas de Israel, desde os dias de Josué (Js 20).

Tudo estava pronto para o início de um grande governo, Roboão foi até Siquém, onde todo o povo de Israel estava reunido para fazê-lo rei (I Rs 12:1 – NTLH). O povo estava disposto a manter o governo unido, e Jeroboão – que tinha voltado do Egito, após saber da morte de Salomão (I Rs 12:2) – tornou-se porta-voz das negociações e das alianças com o novo rei de Israel (I Rs 12:3). A sua reivindicação era simples: queria que Roboão aliviasse a pesada cobrança de impostos, imposta pelo seu pai, Salomão, para sustentar a gastança do seu glorioso e opulento reinado.

A corte Israelita tinha grandes problemas econômicos e era sustentada pelos pesados impostos colocados sobre os povos conquistados. As tribos do norte eram tratadas como povos subjugados, trabalhavam para sustentar a nobreza real; daí a solicitação explícita ao rei de Israel para que os pesados tributos fossem diminuídos: Salomão, o seu pai nos tratou com dureza e nos fez carregar cargas pesadas. Se o Senhor tornar essas cargas mais leves e a nossa vida mais fácil, nós seremos seus servidores (12:4 – NTLH).

Roboão prometeu estudar e discutir a reivindicação apresentada. Em três dias, teria a resposta: Ide-vos e, após três dias, voltai a mim. E o povo se foi (I Rs 12:5). Roboão tinha tudo para desfazer a insatisfação e conseguir a lealdade das tribos do norte. Infelizmente, o rei não conseguiu dimensionar o problema de seu reino; tomou a atitude errada. O rei não aceitou a proposta das dez tribos e resolveu resistir. Após rejeitar o conselho dos anciãos e absorver o conselho dos jovens da corte, escolheu manter as mordomias da classe dominante: O meu pai fez vocês carregarem cargas pesadas; eu vou aumentar o peso ainda mais. Ele castigou vocês com chicotes; eu vou surrá-los com correias [chicotes com pontas de metal] (I Rs 12:14 – NTLH).

O rei não deu ouvidos ao clamor do povo. Ele foi radical em sua posição de governante e não aceitou a proposta que unificaria o reino. Por que Roboão foi tão indiferente e prepotente? Porque Deus quis que fosse assim: O rei, pois, não deu ouvidos ao povo; porque este acontecimento vinha do SENHOR, para confirmar a palavra que o SENHOR tinha dito por intermédio de Aías, o silonita, a Jeroboão, filho de Nebate. (I Rs 12:15)

Tinha de ser assim, para que a promessa de punição divina à apostasia de Salomão fosse cumprida. Roboão não sabia, mas, através da sua insensata e obstinada decisão, o soberano propósito divino estava se realizando.

Vendo Israel que toda tentativa de diálogo com o rei havia esgotado, os israelitas declararam sua independência do governo de Roboão, usando um conhecido adágio do norte, contra Davi (I Sm 20:1), e, mais uma vez, o “grito” foi usado contra Roboão, neto de Davi: Abaixo Davi e sua família! O que foi que eles fizeram por nós? Homens de Israel, vamos para casa! Que Roboão cuide de si mesmo! E assim os israelitas foram para suas casas (I Rs 12:16). Roboão fracassou, na tentativa de um governo unificado em Israel. A atitude do povo em voltar as costas contra o rei era uma declaração pública de independência.

O rei tentou manter ainda por força seus domínios e enviou seu superintendente para manter os serviços forçados, junto às tribos rebeladas, mas o povo assassinou o superintendente do rei, e Roboão fugiu para Jerusalém, de onde governou Judá por dezessete anos: Então o rei Roboão mandou Adonirão, o encarregado dos trabalhadores forçados, para falar com os israelitas, mas eles o mataram a pedradas. Porém Roboão saltou depressa para o seu carro de guerra e fugiu para Jerusalém (I Rs 12:18). Assim, o reino unificado de Israel se dividiu em dois e jamais voltou a ter as dimensões geográficas que teve nos crescentes anos da monarquia davídica. Cumpriu-se a palavra do Senhor.

II – A história aplicada

1. Aprendemos com Roboão que a prepotência divide o povo de Deus.

As tribos do norte, lideradas por Jeroboão I, fizeram uma solicitação justa: Se o Senhor tornar a nossa carga mais leve e nossa vida mais fácil, nós seremos seus servidores (I Rs 12:4b – NTLH). Veja que a posição das tribos do norte não era subversiva. A expressão seremos seus servidores indicava submissão ao rei Roboão. O povo queria apenas justiça social e igualdade, pois as tribos do sul eram privilegiadas se comparadas com as do norte. Na sua prepotência, o rei ignorou o clamor do povo; tratou-o de maneira abusiva e arrogante: O meu pai fez vocês carregarem pesadas cargas eu vou aumentar o peso ainda mais (I Rs 12:14 – NTLH). A intransigência de Roboão dividiu o reino e colocou o povo de Deus em constante ameaça de guerra.

Fujamos da prepotência. Não sejamos abusivos e injustos com o povo de Deus. Não tratemos as suas reivindicações com desprezo e arrogância. Os resultados das decisões de um líder prepotente são: divisão do rebanho, independência da liderança e contrariedade do povo. Assim como Deus não poupou a prepotência de Roboão (I Rs 12:19-20), de Saul (I Sm 13:8-14), de Jeroboão (I Rs 14:1-16), de Acabe (I Rs 21:19-22), de Nabucodonosor (Dn 4:28-37) e de muitos outros líderes, também trará juízo sobre os que usam desse expediente pecaminoso, condenado pelas Escrituras Sagradas, para exercer domínio sobre a obra e o povo de Deus.

2. Aprendemos com Roboão que a insensibilidade divide o povo de Deus.

A insensibilidade para com o povo de Deus foi considerada pecado na história de Roboão. O povo esperou três dias por uma resposta positiva, mas, infelizmente, o rei não o atendeu e mostrou-se indiferente ao seu clamor: “Assim o rei Roboão não atendeu o povo...”, (v. 15) e, “Respondeu o rei ao povo asperamente..”. (v. 13). Essa atitude impiedosa transformou a assembléia de Siquém em revolta popular, que desencadeou a divisão do reino. O grito de todos denunciava a desintegração da tão sonhada unidade em Israel: Abaixo Davi e sua família! Assim, a soberania da casa de Davi foi repudiada pelas dez tribos do norte de Israel [1] (Comentário Moody, Vol. 2, p. 151), que buscaram novos caminhos para a liberdade. A tentativa de Roboão de impor a liderança pela força resultou em assassinato e divisão do reino.

A Bíblia aconselha os líderes a cuidarem do rebanho de Jesus Cristo e a não seguirem o mau exemplo de Roboão. A sensibilidade de um líder, ao lidar com as pessoas, faz toda diferença. Somos chamados a cuidar das pessoas, sentir suas dores, e propor saídas biblicamente corretas para os seus dilemas. Nosso exemplo não vem do impiedoso Roboão, mas de Jesus Cristo, que se empenhou em sarar as feridas do povo, libertar os oprimidos de sua época (Lc 4:18-19; At 10:38). Ele curou cegos (Mc 10:46-52; Jo 9:1-11), coxos e aleijados (Jo 5:1-14), leprosos (Mt 8:1-4; Lc 17:11-19) e conviveu com os pecadores e excluídos dentre o povo (Lc 18:15-17, 19:1-10; Jo 4:1-15). Devemos seguir o exemplo de Cristo, que, além de curar a muitos, proclamou as boas novas de salvação a todos.

3. Aprendemos com Roboão que a exploração divide o povo de Deus.

O povo de Israel, desde a conquista de Canaã, foi orientado por Deus a não oprimir os seus irmãos, sendo que, entre eles, havia leis específicas sobre o serviço forçado e a escravidão. Ao terminar o templo, em Jerusalém, assim declarou Salomão: Nenhum israelita foi obrigado a trabalhar como escravo (I Rs 9:22a – NTLH). A lembrança da escravidão egípcia, para Israel, deveria estar sempre presente em sua memória, a fim de ser uma nação justa: Lembre-se que você foi escravo no Egito (Dt 15:15a – NTLH). Daí, as relações de patrão e empregados, reis e súditos, senhores e escravos deveriam ser pautadas pela justiça. Deus desaprova a exploração do ser humano, em todos os seus aspectos. Há, na palavra de Deus, alertas veementes contra a exploração. Leia, por exemplo, na sua Bíblia, Isaías 58:3, Amós 8:4,6, Mq 3:1-3.

Assim como Deus repudiou a exploração, nos tempos de Roboão e em toda Bíblia, tenhamos certeza de que punirá a todos que têm um tratamento desumano e injusto para com seus liderados, funcionários, esposas, filhos e até mesmo para com os membros da Igreja. Quem serve a Deus, não deve ter pacto com a injustiça, porque toda injustiça é pecado (I Jo 5:17a); mas o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor (II Tm 2:19). Deus vê as nossas atitudes, quando lidamos com as pessoas, especialmente com a igreja.

Concluindo

A estratégia do rei Roboão para unificar o reino de Israel teve, por conseqüência, resultados negativos por causa de suas atitudes. Mesmo sendo um rei que não tinha o mesmo compromisso que Davi teve com Deus, poderia ter feito um grande governo, pois o povo reuniu-se para aclamá-lo como rei de Israel. Sua prepotência, sua insensibilidade e sua opressão sobre o povo transformaram a cidade de Siquem em um campo de batalha e revolta popular. A casa de Davi veio abaixo! Jeroboão I liderou as dez tribos do norte e Roboão teve as duas tribos do sul ligadas ao seu governo, em Judá. As decisões erradas de um líder dividiram o reino de Israel, em 933 a.C., que nunca mais voltou a ser um governo unificado, como nos tempos de Davi.

Mesmo quando a situação era irreversível, Roboão propôs guerra às tribos do norte, sendo que o profeta Semaías levou-lhe uma dura mensagem da parte de Deus: Se marchar contra o reino do norte será derrotado. Assim como Deus puniu a casa de Roboão, por suas atitudes pecaminosas e cruéis para com o povo, punirá também quem estiver agindo com prepotência, insensibilidade e a exploração no meio do povo Deus.

Deus não vai tolerar a indiferença de muitos para com seu povo e sua obra: ... quando Deus julgar, não terá misericórdia de pessoas que não teve misericórdia dos outros. Mas as pessoas que tiverem misericórdia dos outros não serão condenadas no dia do juízo de Deus. (Tg. 2.13). Todos, indistintamente terão de acertar suas contas com Deus (II Co 5:10; Rm 14:10).


BIBLIOGRAFIA:

Bíblia Sagrada, Ed. CONTEMPORÂNEA, Vida, EUA. 1995.
Bíblia Sagrada, NTLH, SBB, São Paulo – SP. 2003
Comentário Bíblico Moody, Vol. 02. Impressa Batista Regular. São Paulo – SP. 1991.
DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. Ed. Vida Nova. São Paulo – SP. 2003.
LASOR, W. HUBBARD, D. & BUSH, F. Introdução ao Antigo Testamento. Ed. Vida Nova. São Paulo – SP. 1999.
O Mundo da Bíblia, 2ª Ed.. Paulus. São Paulo – SP. 1986.
WALTON, J. MATTHEWS, V & CHAVALAS, M. Comentário Bíblico Atos. Belo Horizonte – MG. 1997.
[1] Comentário Moody, Vol. 2, p.

Fonte:
Estudo bíblico de autoria do Pastor Adelmilson Júlio Pereira
Série de estudos sobre o mais interessante período da história dos israelitas: o período da monarquia israelita

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