A cura de Deus para o desanimado


Os Salmos 42 e 49 foram escritos pelos descendentes de Corá, um levita que havia liderado uma rebelião contra Moisés (Nm 16:1-35). Corá foi morto, mas seus descendentes permaneceram fiéis a Deus e continuaram a servir ao Senhor no Tabernáculo. Davi designou homens do clã de Corá para servir como líderes do coro (I Cr 6:31-38); estes continuaram como músicos do Templo por centenas de anos (II Cr20:18-19). [7]

O Salmo 42 inclui orações por livramentos, convites para a adoração, confissão de pecados, encorajamento para confiar em Deus, orientações para aqueles que foram feridos por amigos, consolo para os que foram caluniados e um salmo missionário. Este salmo pode ajudar-nos, junto como Salmo 72, a manter um senso de admiração em nosso louvor.

Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxilio e Deus meu. (Sl 42:5)

O versículo acima nos mostra o salmista num estado caótico. É possível perceber, em suas palavras, que o desânimo havia invadido a sua alma, ao ponto de ele mesmo se questionar: Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? . O salmista faz esse questionamento duas vezes (vv. 5,10). As palavras “abatida” e “perturbas”, nestes dois questionamentos, merecem ser destacadas. Pintam exatamente a situação do escritor do salmo. A primeira palavra, “abatida”, tem o sentido de “ser derrubada” ou “estar desesperada”. A segunda palavra, “perturbas”, tem o sentido de “estar alvoroçada” ou “inquieta”. Então, veja em que situação se encontrava o escritor deste salmo. Estava derrubado por dentro, alvoroçado interiormente, sem forças, desanimado. O salmista era um homem de Deus; no entanto, não esteve imune ao desânimo extremo. Da mesma forma, você e eu, por sermos cristãos, não estamos isentos de passar por momentos como o dele.

Vamos compartilhar alguns conselhos, baseados neste salmo, para enfrentarmos vitoriosamente estas situações. Aprendemos, com base no Salmo 42, que, em Deus, podemos encontrar a cura para o desânimo. Mas o que é necessário fazer, para que isso aconteça? O estudo de hoje nos apresentará quatro caminhos que podemos percorrer para que possamos trilhar rumo à cura do desânimo. Vejamos quais são eles:

Mantenha vivo o seu contato com Deus

A situação do salmista não era nada favorável: ele estava exilado, provavelmente, no extremo norte da Palestina, próximo ao monte Hermom e das nascentes do rio Jordão (Sl 42:6-7). [1] Sem condições de ir ao templo adorar e constantemente ridicularizado por zombadores (Sl 42:3), ele se abate em seu íntimo, cai num profundo estado de tristeza e desânimo. Ele perde o apetite, a alegria, e as lágrimas tornam-se seu alimento: As minhas lágrimas têm sido meu alimento dia e noite (Sl 42:3). O homem de Deus está com a sua alma abatida. A sua alma está abatida, derrubada, desesperada; no entanto, ele mantém vivo o seu contato com Deus. Ele está insatisfeito com a sua situação, desanimado com tudo o que está acontecendo em sua vida, mas continua falando com o seu Deus (v. 9).

O desânimo não o impede de buscar a Deus. Pelo contrário, ele declara ter sede pela presença de Deus: A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo (Sl 42:2). Ele ilustra essa sua sede pela presença de Deus utilizando-se do exemplo da corça, um quadrúpede selvagem, correndo pelo deserto, à procura de água fresca. O salmista carece de sustento para a sua alma. Longe da presença do Senhor, não há vida. Ele experimenta uma sede quase insuportável pelo Deus vivo. [2] O salmista sabe que não pode se afastar daquele que é o seu auxílio (v. 5,11), pois somente Deus pode tirá-lo daquele estado de desânimo. Então, busca a comunhão com Deus, através da oração (v. 8); afinal o propósito desta é manter o contato com o Senhor. Através da oração, o salmista mantinha a comunhão com o seu criador, recebia refrigério para a sua alma desesperada.

Daniel foi levado cativo para o exílio na Babilônia; foi viver no meio de gente pagã, idólatra, incrédula e perversa. No entanto, a sua fé permaneceu firmada no Deus Israel. Daniel não parou de orar, mesmo quando ameaçado, pois entendia que, através da oração, manteria a sua comunhão com Deus em dia (Dn 6).

Manter vivo o contato com Deus é uma das diretrizes mais eficazes para aqueles que almejam vencer o desânimo. Se você está desanimado, não deixe de orar. Buscar a face de Deus é fundamental para manter acesa a chama da esperança. Deixar de orar, de clamar pelo socorro divino é “jogar a toalha” e permitir que o desânimo triunfe sobre nós.

O salmista nos ensina, através de seu exemplo. Ele estava muito abatido, a sua alma estava derrubada, o choro era tão comum quanto o nascer do sol pela manhã, o desânimo era indisfarçável; todavia, ele mantinha vivo o seu contato com Deus. Seu apetite pelos alimentos desaparecera, mas a sua alma tinha muita sede de Deus. Ao nos depararmos com o desânimo, devemos fazer como o salmista. Para trilhar o caminho rumo à cura do desânimo, mantenha vivo o seu contato com Deus. Mas, além de manter vivo seu contato com Deus, o salmista também percorreu outro caminho igualmente importante.

Mantenha viva a sua lembrança de Deus

A pessoa desanimada costuma questionar a bondade, o amor ou até mesmo a existência de Deus e se esquece daquilo que ele já fez por ela um dia. O salmista está desanimado com o presente, com o momento pelo qual está passando, mas, ao invés de esquecer-se, ele se lembra dos momentos bons que tivera junto ao povo de Deus: Lembro-me destas coisas – e dentro de mim se me derrama a alma – , de como passava eu com a multidão de povo e os guiava em procissão à Casa de Deus, entre gritos de alegria e louvor, multidão em festa. (v. 3).

Perceba que o desânimo e o abatimento não o deixaram com amnésia. O salmista derrama suas aflições diante de Deus, junto com recordações de dias melhores. [3] Ele ainda se lembrava dos dias das peregrinações, da alegria do povo, de sua satisfação em conduzir a multidão. O exílio tirou dele a liberdade de ir à casa de Deus, de estar no meio de seu povo, mas não foi capaz de tirar de dentro dele, de sua memória, os bons momentos de outrora. Ele se apegou às boas lembranças para que o desânimo não o devorasse por completo; fez das recordações uma “âncora” para manter viva a sua confiança em Deus.

O povo de Israel foi orientado a comemorar a páscoa todos os anos, no dia 14 de Abibe (Nisã), para que jamais se esquecessem de que foi Deus quem os tirou do cativeiro egípcio e os fez habitar em uma terra boa e fértil (Êx 12). Ao lembrar-se dos feitos de Deus, no passado, eles teriam suas forças renovadas e teriam no que se apegar. O salmista demonstra essa consciência, e, ao se lembrar do passado, o faz com alegria. O poeta tinha saudade de um tempo em que podia ir ao templo adorar. [4] Aparentemente, Deus havia se ausentado (v. 3,10); todavia, o salmista sabia que o seu Deus era mesmo de outrora. O salmo 103, reconhecido como sendo de Davi, nos traz um grande ensino: Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios.

Somos orientados pela palavra de Deus a não nos esquecermos do que ele já fez em nosso favor. Quando nos esquecemos dos feitos graciosos dele em nossas vidas, tornamo-nos ingratos, descontentes, murmuradores. Muitos “caíram” no deserto porque se esqueceram rapidamente do que Deus havia feito por eles na saída do Egito (Êx 32). Nos tempos de seca é bom lembrarmos o tempo da cheia, para que o nosso ânimo seja recobrado.

Não queremos, no entanto, incentivar ao saudosismo, até porque muitas pessoas têm deixado de viver o presente por se apegar demasiadamente ao passado. O que precisamos entender é que, assim como o salmista, devemos nos recordar dos feitos de Deus, das experiências que vivenciamos em sua presença. Fazendo esse exercício, certamente teremos motivos para nos alegrar nele e teremos força para melhor enfrentar o desânimo.

Mantenha vivo o seu cântico a Deus

O desânimo leva as pessoas ao desleixo, à apatia, ao choro; tira o desejo de cantar, de louvar, de adorar a Deus. É possível que você já tenha passado por isso e saiba muito bem do que estamos falando. É comum cantarmos, quando estamos alegres, e chorarmos, quando estamos tristes, mas cantar, quando, aparentemente, não há motivos para isso, é desafiador! É exatamente o que o salmista faz: O Senhor durante o dia me concede a sua misericórdia, à noite comigo está o seu cântico (v. 8).

O Salmista está com sua alma abatida, mas ainda consegue encontrar forças para louvar ao Senhor. O louvor tem um papel extremamente terapêutico em momentos de desânimo. Ele se lembrava do louvor do passado (v. 4), cantava no presente (v. 8) e sabia que, no futuro, ainda louvaria ao senhor pelo livramento que viria (v. 5,11). Veja o contraste entre o salmista e as pessoas que viviam a sua volta. Essas pessoas zombam, escarnecem (v. 3, 10); o salmista, embora sofrendo no momento, não deixa de louvar e acreditar que continuará louvando.

O próprio Salmo 42 é um exemplo de como o salmista entendia a importância de louvar nesse momento difícil, afinal, um salmo é um “louvor”. Sobre louvar, mesmo em meio às lágrimas, existe uma frase interessante: “De dia e de noite, Deus me concede a sua graça consoladora para contrabalançar minhas lágrimas, pelo que sou capacitado por ele a trocar minhas lágrimas por cânticos de louvor, tanto de dia quanto de noite”. [5]

Esse pensamento nos leva a refletir sobre uma grande verdade: é possível louvar a Deus em meio à dor e ao desânimo. Foi o que aconteceu com Paulo e Silas, quando estiveram na prisão. Eles haviam sido torturados e presos injustamente. Tinham todos os motivos do mundo para estarem desanimados. Todavia, encontraram forças para louvar ao Senhor naquele momento (At 16:19-26).

Você é do tipo que, quando as coisas não vão bem, desanima fácil? E quando você está desanimado, deixa de participar dos cultos? Se a sua resposta for sim, cuidado! Não há quem tenha sido curado do desânimo por ter ficado em casa, ao invés de ir para a igreja. As circunstâncias não podem nos impedir de louvar a Deus. Ele é Senhor sobre todas as coisas, está no controle de tudo, e o salmista sabia disso; foi por isso que disse: Um abismo chama outro abismo; ouço o ruído das suas fortes correntes de tristeza que me encobrem (v. 7 – NBV).

Deus enviara as ondas da aflição, pois, segundo a mentalidade dos hebreus, ele era a causa única de todas as coisas. [6] Quando entendemos, como o salmista, que Deus está no controle de todas as coisas, que tudo o que acontece conosco e a nossa volta é com a permissão dele, conseguimos, então, louvá-lo, independentemente das circunstancias, fazendo coro com o profeta Habacuque: Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide (...); as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação (Hc 3:17-18). Amém!

Mantenha viva a sua esperança em Deus

Quando o salmista olhava para o seu passado, sentia saudade das peregrinações rumo à casa de Deus, da alegria das pessoas (v.4). Quando olhava para o seu presente sentia a dor provocada pelo exílio e pelas provocações (v. 2-3). Quando olhava para o futuro, tinha a certeza de que a libertação estava por vir, que ainda voltaria à casa do Senhor: Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxilio e Deus meu. (v. 5,11).

Ele estava desanimado, mas não havia perdido a esperança em Deus. Ele havia feito do Senhor a sua rocha (v. 9). Isso significa que Deus era a sua fortaleza, o seu refúgio, socorro bem presente naquele momento de angustia (Sl 46. 1). Ele confiava plenamente em sua misericórdia (v.8). O Deus do salmista não era um Deus tirano, mas, sim, misericordioso. Jeremias diz que as misericórdias deste Deus não têm fim (Lm 3:22). Por também saber disso, o salmista tenta, constantemente, convencer a sua “alma” a depositar a sua esperança nele. Ele sabe que o seu Deus está no controle de todas as coisas (v.7) e que é poderoso para mudar o curso de sua vida.

O desanimado, normalmente, não consegue olhar para o amanhã com entusiasmo e tem dificuldade para acreditar em dias melhores. Todavia, cabe aqui uma reflexão oportuna: Jeremias era um homem de Deus, mas estava passando por um momento caótico e a sua alma estava abatida (Lm 3:20). Ele estava totalmente desanimado e confuso com tudo que estava acontecendo a sua volta. Foi nesse momento que ele fez a seguinte declaração: Quero trazer a memória o que me pode dar esperança (Lm 3:21). Jeremias sabia que precisava manter viva a sua esperança em Deus!

O que tem lhe ocupado a mente, os pensamentos? Quando o desânimo aparece, você tem trazido à memória aquilo que lhe pode dar esperança? Muitas pessoas estão se entregando ao desânimo, ocupando suas mentes com pensamentos suicidas. Outras estão definhando por sustentar pensamentos extremamente pessimistas, acreditando que suas vidas chegaram ao fim. Se este é o seu caso, aqui vai uma palavra direta ao seu coração: Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, e cuja esperança está posta no SENHOR seu Deus (Sl 146:5). Bem aventurado é o mesmo que feliz, ou seja, feliz é todo aquele que põe no Senhor a sua esperança.

Em quem você tem colocado a sua esperança? Quando a angústia chega, você chama por quem? Quando o desânimo procura lhe dominar, em quem você busca refúgio? O salmista não ignorou o seu momento difícil, nem fugiu dele; no entanto, preservava, dentro de si, uma esperança viva em Deus e sabia que este agiria em seu favor. Para trilhar o caminho rumo à cura do desânimo, mantenha viva a sua esperança em Deus.

Concluindo

Há cura de Deus para o desanimado. O fato de sermos cristãos, homens e mulheres de Deus, não nos torna imunes ao desânimo. Todavia, o nosso Deus é poderoso para curar a nossa alma abatida. O salmista entendeu isso e colocou toda a sua confiança no Senhor. O tempo todo tratou de deixar bem claro para a sua “alma” que ela deveria se aquietar e esperar em Deus, a sua rocha e seu auxílio. Ele sabia que o Senhor era poderoso para converter o seu pranto em festa e cingi-lo de alegria. Não deixou de orar, de louvar, jamais se esqueceu de quem era Deus; por isso, a sua esperança se manteve viva. Irmão, se o desânimo vier bater (ou quem sabe já tem batido) em nossa porta, faça como o salmista: mantenha vivo o seu contato com Deus.

Não deixe de orar. Mantenha viva a sua lembrança de Deus. Não se esqueça de tudo o que Deus já fez por você. Mantenha vivo o seu cântico a Deus. Não deixe de louvar, de cultuar a Deus. Mantenha viva a sua esperança em Deus. Não deixe de acreditar que o Senhor está no controle de todas as coisas e que é poderoso para fazer o sol nascer, após uma grande tempestade. Faça coro com o salmista: Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxilio e Deus meu.

Bibliografia

1. CHAMPLIN, Russell N. O Antigo Testamento interpretado: versículo por versículo. São Paulo: Candeia, 2000, vol. 4. Pág.2189
2. Comentário Bíblico Africano (2010: 659).
3. CARSON, D. A. (Org.). Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo:Vida Nova, 2009. Pág.776
4. Israel Belo de Azevedo. Estou triste, mas quero mudar (in) www.prazerdapalavra. com.br > Acessado em 07 de junho de 2011.
5. Fausset apud Champlin (2000: 2190).
6. CHAMPLIN, Russell N. O Antigo Testamento interpretado: versículo por versículo. São Paulo: Candeia, 2000, vol. 4. Pág.2190
7. Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal – CPAD – Comentário pág. 767

Fonte:
Departamento de Educação Cristã
Paulo Cesar Amaral

3 comentários:

  1. esta de uma palavra assim foi muito bom e edificante visitar seu blog a paz!

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  2. Celoy

    Amém! Que bom! Deus te abençoe! A Paz do Senhor Jesus!

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  3. Prezado PC Amaral

    a paz de Cristo! Vimos que reproduziu o sermão do DEC em seu blog, o que é muito bom, porém peço a gentileza de vc colocar o devido crédito do Portal IAP.
    Obrigada
    Lilian Mendes
    coordenadora do Portal IAP

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