O anticristo aparecerá com o desaparecimento daquele que agora o detém

A verdade é que o mistério da iniqüidade já está em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o detém (2Ts 2.7)

Alguém ou algo está tapando o pequeno buraco do dique para que a água do lado de lá não o derrube e passe para o lado de cá, inundando e destruindo tudo. O mistério da iniqüidade já está em ação, a megaapostasia já está a caminho e o “homem do pecado” poderá se manigestar a qualquer hora. O desastre final, de grandes proporções, que antecede a vinda de Jesus em poder e muita glória, ainda não aconteceu porque alguém ou algo está detendo ou barrando a chegada do anticristo. Os tessalonicenses sabiam se era algo ou alguém e sabiam o seu nome: “E agora vocês sabem o que o está detendo, para que ele [o homem do pecado] seja revelado no seu devido tempo” (2Ts 2.6). Os leitores imediatos (de ontem) sabiam, mas os leitores distantes (de hoje), nós, não sabemos.

Agora é a vez do impedidor, e não do homem do pecado. Mas a hora e o dia do impedidor ser afastado e deixar livre o caminho está chegando. “Então será revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus matará”, garante o apóstolo Paulo (2Ts 2.8).

O homem do pecado está sendo retido por uma ação ou por uma pessoa. Há “alguma coisa” (NTLH) ou certo “poder limitativo” (na versão de Phillips) que não deixa que ele se manifeste agora. Não se sabe se o impedidor é um poder abstrato e impessoal (como sugere o “o que” de 2Ts 2.6) ou um poder pessoal (como sugere o “a quem” de 2Ts 2.8). Pode ser que sejam ambos ao mesmo tempo. O texto leva a um interessante trocadilho: o homem do pecado aparecerá com o desaparecimento do impedidor.

A curiosidade é enorme. Todos gostaríamos de saber de quem ou de que Paulo está falando. Em Concernente à Cidade de Deus, Agostinho (354-430), o maior teólogo da antiguidade, confessa francamente que mesmo com os melhores esforços não era capaz de descobrir o que o apóstolo queria dizer.

A sugestão de que o impedidor seria o Espírito Santo é simpática, mas não tem o apoio dos melhores intérpretes. Entre as muitas teorias, a que parece ter mais peso assegura que o famoso barrador do homem do pecado é “o poder do governo humano bem ordenado”, “o princípio da legalidade oposto ao da ilegalidade” (C. J. Ellicott).

Segundo este ponto de vista, diz William Hendriksen, “Paulo tinha em mente que, enquanto a lei e a ordem prevalecerem, o homem da iniqüidade está impossibilitado de aparecer no cenário da história com seu programa de injustiça, blasfêmia e perseguição sem precedentes” (Comentário de 1 e 2 Tessalonicenses. p. 268). O mesmo autor diz que essa interpretação é mais freqüente entre os pais da igreja. Um dos mais antigos deles, Tertuliano, nascido em Cartago por volta doano 155, declarou: “Que obstáculo há senão o Estado romano?”.

De fato, para impor e fazer prevalecer sua ditadura religiosa atéia e anticristã, o homem do pecado tem de encontrar um mundo desprovido de autoridade, lei e ordem. Além do mais, essa interpretação ajuda a entender por que Paulo se refere ao mesmo tempo a um poder abstrato e a um poder pessoal: este seria o chefe do governo e aquele seria o governo em si.
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Fonte: Revista Ultimato edição 309

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