A Lei de Deus e a cobiça

A Lei de Deus e a cobiça

O presente estudo trata do pecado da cobiça. Este pecado é mencionado no décimo mandamento da santa lei de Deus (Êx 20:17) e está diretamente ligado à inveja, ao egoísmo e à ambição, de modo tal que a pessoa que transgredir esse mandamento acabará transgredindo vários outros, pela relação que existe entre eles. Deus não quer que seus filhos sejam marcados por esse tipo de desejo. Ao contrário, quer que sejamos santos e puros, não somente em nossa maneira de agir, mas também em nossa maneira de pensar, e o pecado da cobiça abrange principalmente os pensamentos do cobiçoso.

Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo. (Êx 20:17)

O mandamento que proíbe o pecado da cobiça é um dos oito mandamentos que, na relação dos dez, começa pela negativa “não”: “Não cobiçarás”. A cobiça é uma má qualidade da pessoa que sempre está descontente com o que tem. Aliás, o cobiçoso nunca está satisfeito com o que possui. Para ele, a casa do vizinho é melhor que a sua; a grama do jardim da casa do vizinho é mais verde que a do seu jardim etc. A cobiça, fugindo ao controle do cobiçoso, pode transformar-se em adultério, furto e assassinato, entre outras coisas. A melhor maneira de combatê-la consiste em nos sentirmos satisfeitos com o que temos.

Cobiçar? Não! 

A cobiça é definida como um desejo desordenado, incontrolado e egoísta. O termo hebraico traduzido por ‘desejar’ é ‘hãmad’, que é, em si mesmo, neutro. Apenas quando mal orientado para aquilo que pertence a outrem é que tal “desejo” se torna errado, [1] ou seja, a Bíblia não condena o desejo por coisas lícitas e permitidas. Ninguém está impedido de desejar algo, se esse algo está ao seu alcance, ou pode ser seu, por meios legítimos. O que Deus, de fato, condena é o desejo pelas coisas alheias, que jamais poderão ser nossas, a não ser por meios ilegítimos.

A cobiça é um pecado de natureza interior, pois pode permanecer camuflado no mais profundo da mente, por algum tempo, de maneira que só o pecador e Deus são capazes de tomar conhecimento de sua existência. Na verdade, na lista dos dez mandamentos, a cobiça é o único pecado “que trata diretamente da vida interior e alcança os desígnios do coração”. [2] Por isso mesmo, é um dos mais perigosos. Quando se externaliza, acaba transformando-se em outros tipos de pecado, como: adultério, furto, morte e falso testemunho.

Há quem se arrisque a dizer que a quebra do décimo mandamento equivale à quebra de todos os outros. O décimo mandamento realmente parece resumir todos os outros. Talvez por isso tenha sido colocado em último lugar, na relação dos dez. A cobiça está estreitamente associada à ganância, à ambição e à inveja. O que mais atrai o invejoso é aquilo que já pertence a outrem. O cobiçoso nunca está inteiramente satisfeito com aquilo que tem, e, mesmo tendo mais do que merece, quer sempre mais. É um sentimento mesquinho, que só demonstra insegurança e pobreza de espírito.

O que não cobiçar: 

O mandamento diz: Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo (Êx 20:17). Por que não devemos desejar estas coisas? Porque já pertencem a outrem. É importante entender que o desejo só se caracteriza como cobiça nas situações em que o objeto da cobiça não pode ser nosso por meios legítimos. Quando Deus nos proíbe de cobiçar, está nos garantindo o respeito ao nosso direito de não sermos alvos da cobiça alheia (Mt 7:12). O texto é explícito: “Não cobiçarás a casa, a mulher, o servo, a serva, o boi, o jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo”. Se todas as pessoas conhecessem este mandamento e se sujeitassem ao que ele determina, muitos conflitos que, hoje, são comuns, no relacionamento entre elas, seriam evitados, porque a lei de Deus, mais do que qualquer outra, está baseada no princípio universal de diretos e deveres: nós respeitamos o direito dos outros e temos o nosso direito respeitado por eles. Cada direito vem acompanhado de um dever que lhe corresponde e vice versa.

Assim como não devemos cobiçar a casa, a mulher e a família do próximo, não devemos cobiçar nenhum dos seus bens: sua fazenda, seu carro, seu emprego, sua posição etc. Este é talvez o mandamento mais revelador de todos, pois cobiçar “é uma atitude da natureza interior que pode ou não ser expressa num ato aquisitivo exterior (...), a cobiça pode ser direcionada para praticamente tudo”. [3] Jesus deixou claro que o pecado da cobiça manifesta- se no coração, ou seja, no interior humano, antes de se externalizar: Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela (Mt 5:28 ).

Quem cobiça, sofre: 

O pecado da cobiça, assim como qualquer outro, não ficará impune perante Deus. De acordo com as Escrituras, todas as pessoas que cometem esse pecado sofrem as suas consequências. Os poucos exemplos que relacionamos a seguir dão-nos a certeza disso. Entre os humanos, Eva foi a primeira pessoa que o cometeu. Instruída por Deus a não comer do fruto proibido, quando foi tentada a fazê-lo, sua reação foi a seguinte: E vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu (Gn 3:6). Pagou, por isso, o preço de sua desobediência.

Ao desobedecer à ordem de Deus, Eva perdeu, entre outras coisas, a inocência, o lar e a vida, além de ficar desiludida de que jamais seria igual a Deus, mesmo conhecendo o bem e o mal. Adão não só sofreu as mesmas consequências, mas também levou a desobediência a toda a sua posteridade. Tudo isso por causa do desejo incontrolado de querer ser igual a Deus. Adão e Eva, portanto, tornaram-se exemplos que não devemos seguir. Ambos sofreram as penalidades resultantes da desobediência que cometeram (Gn 3:8-13).

Com Davi, não foi diferente. Movido pela cobiça, foi levado a praticar um adultério e um homicídio. Repreendido por Deus, através do profeta Natã, ouviu do Senhor: Assim diz o Senhor: Eis que suscitarei da tua mesma casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei ao teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol (2 Sm 12:9-12). Davi seria humilhado publicamente: Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel, e perante o sol (v. 12). O mesmo aconteceu com Judas Iscariotes, que, movido pela ambição, vendeu o seu Mestre. Mesmo arrependido, não foi mais aceito, vindo a ter um fim desastroso (At 1:18).

A real satisfação: 

Na verdade, o que o cobiçoso nunca tem é satisfação. As pessoas marcadas por esse desejo nunca estão satisfeitas com o que têm (Tg 4:2). É insaciável o desejo do cobiçoso. Usando uma linguagem figurativa, o recipiente representado pelo desejo do cobiçoso não tem fundo; nunca enche. Por que não devemos cobiçar a casa, a mulher do próximo ou tudo que ele tem? A resposta: “Porque Deus sabe que no momento em que começarmos a andar por esse caminho, jamais teremos o suficiente. Não importa quanto seja, não será suficiente”. [4]

O exemplo deixado pelo apóstolo Paulo foi o de alguém que aprendeu a controlar os seus desejos, acomodando-os às circunstâncias que vivia. Diz ele: ... porque já aprendi a contentar me com o que tenho. Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda a maneira e em todas as coisas, estou instruído (Fp 4:12). Paulo aprendeu a viver contente, pois sua satisfação estava em Cristo (Fp 4:13). O autor da carta aos Hebreus também nos deixou este conselho: Afastem-se do amor ao dinheiro; sintam-se satisfeitos com o que vocês têm. “Porque Deus disse: Eu nunca abandonarei você, nem o desampararei” (Hb 13:5).

Na maioria das vezes, o descontentamento tem realmente pouco a ver com aquilo que temos ou deixamos de ter. Por exemplo, se alguém está infeliz por ser solteiro e acreditar que o casamento o fará feliz, está enganado. Se alguém “não estiver satisfeito, feliz e realizado como é, onde está e com o que possui, mudar as suas circunstâncias não lhe dará um bilhete instantâneo para a alegria”. [5] Muitos são os que ficam desapontados e insatisfeitos, quando conseguem algo, depois de esperar muito tempo, e descobrem que, na verdade, não é isso que lhes dá satisfação ou contentamento duradouro. Para o salmista, só uma coisa o satisfazia completamente: a presença do Senhor (Sl 23:1).

Até aqui, tratamos do pecado da cobiça, mostrando que a prática desse pecado é transgressão ao décimo mandamento da lei de Deus. Tiago afirma que qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de todos. Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás (Tg 2:10-11). Como vimos, o décimo mandamento está relacionado a nossa vida interior. Deus está preocupado tanto com aspectos exteriores quanto com aspectos interiores da nossa vivência. Por isso, devemos vigiar constantemente todas as nossas intenções e atitudes, para não incorrermos na prática desse pecado, porque, de acordo com as palavras de Jesus, não é preciso lançar mão do objeto cobiçado; o simples desejo de possuí-lo já é suficiente para caracterizar o pecado da cobiça (Mt 5:27-28).

Aplicando a Palavra de Deus

1. Afastemo-nos da ambição, que não satisfaz.

Vivemos em uma sociedade consumista, e isto tem induzido muitas pessoas a comprarem mais do que precisam ou podem, movidas pela ambição de ter mais. É o celular mais sofisticado, o computador mais rápido, o carro do ano etc. As propagandas comerciais são as grandes incentivadoras a serviço do consumismo. São ainda mais persuasivas quando o colega ou o vizinho já possui essas coisas. Porém, nada disso satisfaz. Jesus disse que a vida de um homem não depende da quantidade de bens que possui (Lc 12:15). Nosso valor não pode ser medido por dinheiro e bens (1 Pd 1:18-19).

2. Aproximemo-nos de Deus, que traz satisfação verdadeira.

A cobiça é uma busca que segue o vento. A pessoa busca, busca e não consegue encontrar nada que seja concreto. Só deixamos de correr atrás do vento e conseguimos encontrar a satisfação verdadeira, quando colocamos nossa satisfação em Deus. Para o salmista, nada o satisfazia mais do que a presença do Senhor. Diz ele: O Senhor é o meu Pastor e nada me faltará (Sl 23:1). Em outro Salmo, lemos: A quem tenho eu no céu, senão a ti? E na terra não há quem eu deseje além de ti. (...) Deus é a fortaleza do meu coração, e a minha porção para sempre (Sl 73:25-26). O salmista Asafe não tinha espaço no coração para desejos ilícitos. O Senhor era a sua “porção” suficiente. Aprendamos com ele a ter o Senhor como a nossa porção, e, assim, estaremos livres do pecado da cobiça.

Conclusão

Não nos enganemos: a cobiça é pecado. Por isso, devemos afastar esse desejo de nossas mentes e de nossos corações. Devemos ser sábios em nossas escolhas, para que, uma vez conseguindo as coisas que buscamos, não necessitemos desejar as coisas alheias. O cobiçoso, que é também invejoso, nunca está satisfeito com nada. Está sempre inconformado e infeliz com aquilo que tem. Aprendamos com Asafe (Sl 73:25-26) a ter o Senhor como a nossa “porção”. Ele é suficiente para nos satisfazer.

Bibliografia

1. COLE, Alan. Êxodo: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão: 1963. pág. 155
2. MOHLER Jr., R. Albert. Palavras de fogo. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. pág. 145
3. BOICE, James Montgomery (Ed). Fundamentos da fé cristã: um manual de teologia ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2011. pág. 211
4. MEHL, Ron. A ternura dos dez mandamentos. 2 ed. São Paulo: Quadrangular, 2006. pág. 218
5. MEHL, Ron. A ternura dos dez mandamentos. 2 ed. São Paulo: Quadrangular, 2006. pág. 215

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