O Perigo de Cair da Graça


É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento. (Hb 6:4-6)

Todo crente em Jesus tem a salvação (1 Jo 5:13). Será possível um cristão regenerado perdê-la? De acordo com o trecho da carta aos Hebreus, sim. Muitos são os que tentam jogar “panos quentes” e abrandar a severidade das palavras de Hb 5:11-6:20, fazendo parecer que o autor não se referia a cristãos verdadeiros, mas a simpatizantes do evangelho, gente que nunca foi regenerada. Todavia, um exame sério deste texto não nos permite acreditar em tal falácia. De outro lado, Satanás tem usado esse texto, através de gente não instruída, para desanimar e oprimir cristãos fracos na fé, que caíram em pecado, fazendo-os acreditar que não têm mais o perdão de Deus. Precisamos tomar cuidado! De que pecado Hebreus seis trata? Se pudermos perder a salvação, em que situação se dá? É o que veremos.

Compreendendo a mensagem

No último capítulo de Hebreus (13:22), o autor roga aos leitores que escutem as palavras de sua carta, que ele chama de palavra de exortação (NVI), ou mensagem de encorajamento (KJV). É interessante como se desenrola o argumento de Hebreus. Em várias passagens, existem advertências sobre virar as costas para a fé que se havia abraçado, acompanhadas de um encorajamento para que se permaneça fiel até o fim. É exatamente isso que acontece no trecho que iremos analisar. Os crentes haviam crido pela pregação de testemunhas oculares de Cristo, haviam suportado dificuldades por causa do evangelho (Hb 10:32-34), mas estavam correndo o perigo de abandonar a fé. Foram, então, encorajados a ficar firmes. Neste trecho, o autor trata de três assuntos importantíssimos.

1. Infância espiritual prorrogada: 

Em Hb 5:11, o autor interrompe o assunto do sacerdócio de Cristo abruptamente, para fazer uma advertência aos seus leitores: A esse respeito temos muitas cousas que dizer, e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir. Essa é uma advertência com relação à atitude daqueles cristãos diante da palavra de Deus. Eles haviam se tornado “preguiçosos” no seu “apetite e compreensão espiritual”. [1] Desta forma, mencionar a ordem sacerdotal de Jesus, a de Melquisedeque, assunto que o autor iria começar a tratar (Hb 5:10), poderia causar estranheza. Ele não tinha certeza de que seus leitores entenderiam; não sabia se seriam maduros o suficiente. Por isso, fez uma pausa com o tema, a fim de fazer algumas afirmações, e só voltaria ao tema do sumo sacerdócio no capítulo sete.

Neste meio tempo, o autor fez o alerta sobre o perigo de se estacionar na vida espiritual e apresenta possíveis consequências. [2] Um destes perigos é o do prorrogamento da infância espiritual. Enquanto deveriam ser mestres, podendo ensinar a outros, tinham a necessidade de ser ensinados, novamente, sobre os princípios elementares dos oráculos de Deus (Hb 5:12). A expressão “oráculos de Deus” deve ser entendida como o ensino básico do evangelho, “porque é usada em conjunto com ‘princípios elementares’ (stoicheia), palavra comumente usada para descrever o A.B.C. de uma coisa”. [3] Esses crentes voltaram a ser “crianças espirituais”, a ponto de o escritor dizer que estavam precisando de que se soletrasse o bê-á-bá da fé novamente; estavam precisando de leite e não de alimento sólido (Hb 5:13).

Ao invés de avançarem em seus conhecimentos e em sua prática da palavra de Deus, esses cristãos estavam precisando de uma atualização do ABC do evangelho. E o que mais chama à atenção é que eles não eram recém-convertidos; ao menos o v.12 sugere que não. Não foi a falta de tempo que os deixou assim, mas a falta de aplicação e esforço para amadurecerem no conhecimento bíblico. No v. 14, somos informados de que o alimento sólido, ou seja, as verdades cristãs profundas são reservadas para os adultos. Quem é adulto espiritualmente sabe discernir entre o bem e o mal (v. 14), entre o que honra a Deus e o que o desonra; entre o que é da vontade de Deus e o que não é. Discernimento é sinal de maturidade. Diante disso, o autor os exorta a colocarem os assuntos elementares da doutrina de Cristo à parte e avançarem para a maturidade (6:1): ... deixemo-nos levar para o que é perfeito.

“Pôr de lado” não é abandonar ou desprezar, mas entender que as primeiras lições são isto mesmo: “primeiras”. As doutrinas elementares não são o ponto final, mas uma porta para o progresso espiritual. Perceba que o autor se inclui nessa caminhada. Ele não se gaba de ter atingido a maturidade nos assuntos espirituais. Todavia, não estava lento para ouvir, mas estava em busca do que é perfeito (maturidade). Maturidade espiritual não é algo que se consegue com esforço próprio. A forma passiva do verbo, no grego, aponta para a “entrega a uma influência mais nobre, como se o processo de maturação não fosse uma questão da nossa engenhosidade”. [4] É preciso depender de Deus, fazer a nossa parte e depender dele.

2. Perigo catastrófico pronunciado: 

Depois da exortação para que os leitores avançassem em maturidade, o autor de Hebreus anuncia um perigo real e catastrófico: a apostasia. A “lerdeza espiritual” pode “levar a que um cristão perca definitivamente tudo aquilo que lhe foi dado através de Cristo”. [5] Pelo texto, ninguém é identificado como tendo cruzado a linha fatal e caído (Hb 6:9). A vida ainda não havia se apagado. Mas havia algo que esses cristãos vacilantes e imaturos precisavam saber, e o autor os alerta sem titubear: é impossível um cristão genuíno que se apostatar ser outra vez renovado para o arrependimento (cf. Hb 6:4-6). Analisemos este perigo catastrófico.

Em primeiro lugar, é bom notarmos que o texto está se referindo a crentes verdadeiros e não a meros professos cristãos. Suas características, segundo a passagem em questão, são: 1) foram iluminados (Hb 6:4a), isto é, foram despertados pelo Espírito Santo sobre seus pecados e sua necessidade de salvação (Jo 16:8); 2) provaram o dom celestial (Hb 6:4b). O “dom celestial” está ligado à ideia de “dom da graça de Deus” (Rm 5:15; Ef 3:7), que diz respeito à abrangência da totalidade das bênçãos da salvação. Essas pessoas “provaram” esse dom, ou seja, desfrutaram, de maneira real e consciente, as bênçãos da salvação; 3) tornaram-se participantes do Espírito Santo (6:4c). A palavra “participantes” é a tradução do grego metóchys, que significa, também, “associado, companheiro”. O autor de Hebreus está se referindo a gente que recebeu o Espírito e viveu em harmonia com ele durante um tempo.

Além dessas características, essas pessoas também 4) provaram a boa palavra de Deus (6:5a), isto é, conheceram, por experiência própria, os benefícios da palavra de Deus (KJV). Eles sabiam disso, porque, por muito tempo, viveram imersos na experiência cristã. [6] Por fim, também 5) provaram os poderes do mundo vindouro (6:5b). No presente, essas pessoas já experimentavam as alegrias da salvação futura. Todas estas experiências são vivenciadas por cristãos regenerados, e não podemos admitir o contrário. O texto está se referindo a crentes verdadeiros e não a meros simpatizantes. Em segundo lugar, precisamos admitir que cristãos genuínos podem “cair” (Hb 6:6) e perder sua salvação.

Mas o que significa “cair”?

É bom sabermos que não é uma referência a pecar, de modo geral. Apesar de não fazer do pecado um estilo de vida (1 Jo 3:6,9), mesmo depois de convertido, o cristão peca (1 Jo 1:8). Todavia, pode confessar-se (1 Jo 1:9), pois tem um advogado (1 Jo 2:1). “Cair” não é cometer adultério ou qualquer outro deslize moral, nem pode ser identificado com aqueles momentos de fraqueza na vida cristã.

“Cair”, então, é uma referência à apostasia e “envolve negar a Cristo após ter experimentado sua graça e sua salvação (frequentemente abraçando outra religião, como por exemplo o judaísmo, o budismo, o ateísmo, etc.)”. [7] Diz respeito a repudiar a salvação recebida em Cristo. A quem cai na apostasia, é impossível outra renovação para que se arrependa (Hb 6:6). É impossível, não porque Deus não tenha poder ou não queira salvar, mas porque quem repudia a Cristo, ultraja a graça. Então, o Espírito Santo, o único que pode convencer um pecador de seu pecado, já não contenderá com tal pessoa. Retira-se para nunca mais voltar. Daí a impossibilidade do perdão. O apóstata chega a um estado de coração e de vida que não lhe possibilita o arrependimento. Se alguém passou um tempo fora da igreja e voltou, é sinal de que não chegou a se tornar apóstata. A apostasia é uma ruptura completa de relação com Jesus. Não é o resultado de uma decisão rápida, “mas de um processo de endurecimento gradual dentro da mente que se cristalizou agora em uma ‘atitude constante de hostilidade a Cristo’”. [8] Quem envereda por esse caminho, está crucificando novamente para si o Filho de Deus e expondo-o à vergonha (Hb 6:6b). Nos vv. 7-8 do capítulo 6, o autor ilustra a verdade que acabou de apresentar, comparando os apóstatas a uma terra inútil.

3. Esperança segura proclamada: 

O cenário descrito em Hb 6:4-8 não representava a realidade de nenhum dos cristãos hebreus. O autor fez a advertência, mas estava convencido de que os hebreus, embora cambaleantes, viviam situação muito melhor, sendo beneficiados com as bênçãos da salvação (v. 9). Embora a apostasia fosse um perigo real, ninguém havia atingido esse estágio. Na verdade, o propósito desse trecho é encorajar. O escritor de Hebreus quer que seus leitores permaneçam firmes na fé, mostrando até o fim a mesma diligência (6:11). Por isso mesmo, ele termina o capítulo lembrando-os de verdades gloriosas.

O autor lembra aos cristãos que Deus é justo. Mesmo cambaleando na fé, eles continuavam a servir os santos (v. 10). Isso é impressionante! Mesmo passando por um período de esfriamento de sua vida cristã, num momento de incertezas, esses cristãos nunca deixaram de servir outras pessoas. Diante disso, eles são informados de que Deus não é injusto para ficar esquecido do (...) trabalho deles e do amor que evidenciavam para com seu nome (v. 10). Deus não esquece e nem despreza o nosso serviço ao próximo. Conforme já dissemos, o profundo e intenso desejo do escritor dessa epístola é que seus leitores progredissem e se agarrassem cada dia mais à “certeza da esperança” (v. 11b). A razão de ele ter esse desejo é que a atração pelo judaísmo talvez os estivesse despojando da alegria dessa certeza. [9]

Qual a razão de terem a plena certeza da esperança? Ele responde: ... para que não se tornem indolentes, mas imitadores daqueles que pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas (v. 12). Se eles deixassem de ser diligentes para a eterna certeza da esperança, poderiam tornar-se indolentes. Essa esperança é a confiança na palavra e nas promessas de Deus. Ela será completa com a volta do Senhor Jesus (Hb 9:28). O autor segue seu argumento apresentando o exemplo de Abraão (Hb 6:13-17). Ele usa a figura do patriarca, que obteve a promessa, para mostrar mais firmemente àqueles cristãos que as promessas de Deus são imutáveis e plenamente confiáveis. Abraão esperou com paciência e a alcançou. Na sequência do texto, somos informados de que é impossível que Deus minta. Então, aqueles que já correram para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança, tem forte alento (v. 18). O Senhor Jesus é nosso refúgio e nossa esperança, assim como era para aqueles cristãos.

Essa esperança é âncora segura e firme (v. 19). A figura da âncora é fabulosa. Seu “serviço é permanecer fixa no fundo mar sejam quais forem as condições marítimas. De fato, quanto mais violento o tempo, tanto mais importante é a âncora para a segurança”.10 A âncora é um símbolo ideal para a esperança cristã. Os leitores de Hebreus precisavam lembrar-se disso e agarrar-se a essa esperança. O autor da carta termina informando-os que essa esperança penetra além do véu, aonde Jesus, como precursor, entrou por nós (v. 19-20). É interessante a palavra “precursor”. A imagem é a de um soldado, membro do corpo de reconhecimento de um exército, que vai à frente para assegurar que os que vêm depois sigam em segurança. O que Jesus fez, fez por nós, para que pudéssemos também chegar à presença de Deus. Saber disso é um encorajamento para continuarmos ao lado dele.

Aplicando a Palavra de Deus a nossa vida

Não nos descuidemos da nossa maturidade - Muitos cristãos hebreus estavam cambaleando, correndo o risco de se apostatar, porque não deram o devido valor ao crescimento espiritual. Tornaram-se “preguiçosos” para aprender a palavra de Deus. Estavam vivendo uma infância espiritual prolongada. O problema de não amadurecermos como cristãos é que podemos regredir. Ninguém se torna apóstata do dia para noite. Apostasia é um processo. Pouco a pouco a pessoa vai perdendo o interesse pela palavra de Deus e pelo Deus da palavra. Pouco a pouco a oração torna-se dispensável. Pouco a pouco a comunhão cristã começa a não fazer sentido. Daí, estaremos a um passo do precipício: repudiar e depreciar a Cristo e a salvação oferecida por ele. Por isso, não descuidemos de nosso crescimento espiritual, apeguemo-nos, com firmeza, às verdades ouvidas (Hb 2:1), e avancemos para a maturidade (Hb 6:1 – NVI).

Não nos desapeguemos da nossa esperança - A igreja de Cristo é uma comunidade de gente que tem esperança. Esperamos que Cristo apareça pela segunda vez (Hb 9:28); esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça (2 Pd 3:13). Esperamos o triunfo final do reino de Cristo e seu total estabelecimento. As nossas esperanças devem fazer-nos seguir em frente, caminhar até o fim, de modo que não nos tornemos negligentes, mas imitemos aqueles que, por meio da fé e da paciência, recebem a herança prometida (Hb 6:12). Lembrar a esperança proposta foi o que fez o autor de Hebreus no final do capítulo 6, para que qualquer desejo que houvesse de abandonar Cristo fosse deixado de lado. Ele os encorajou a permanecerem firmes baseado nas promessas de Deus para seus filhos. Nos tempos de fraqueza e de “baixa espiritual”, lembre-se disto: você é um herdeiro de promessas gloriosas. Você já tem o refúgio seguro de Cristo no presente (Hb 6:18) e terá mais presentes gloriosos no futuro.

Conclusão

Todo aquele que entregou sua vida a Cristo com sinceridade foi regenerado, justificado, adotado; tornou-se habitação do Espírito Santo , um crente em Jesus, e ganhou a vida eterna (1 Jo 5:13). É um salvo. A única maneira de ele perder essa bênção é se apostatando. A apostasia é um perigo real (Hb 6:4-8); é a quebra total da relação com Cristo; é o repúdio à salvação recebida dele. Há um processo até que se chegue a ela. Quem chega a esse estado, endurece tanto o coração que não pode mais ser renovado para o arrependimento. Por isso, um momento de fraqueza ou de desânimo na vida espiritual não é apostasia. Quem passa por isso, pode reacender de novo o ânimo e praticar as primeiras obras.

Apostasia é mais grave.


Bibliografia:

1. TAYLOR, Richard S. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Hebreus a Apocalipse. Vol. 10. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. Pág. 55
2. BOYD, Frank M. Gálatas, Filipenses, 1 e 2 Tessalonicenses e Hebreus. 6 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. Pág. 136
3. GUTHRIE, Donald. Hebreus: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1983. Pág. 127
4. GUTHRIE, Donald. Hebreus: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1983. Pág. 129
5. LAUBACH, Fritz. Carta aos Hebreus: Comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2000. Pág. 99
6. GUTHRIE, Donald. Hebreus: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1983. Pág. 134
7. ARRINGTON, French; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003. Pág. 1576
8. ARRINGTON, French; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003. Pág. 1575
9. GUTHRIE, Donald. Hebreus: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1983. Pág. 140
10. GUTHRIE, Donald. Hebreus: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1983. Pág. 144

Fonte:
Departamento de Educação Cristã
Paulo Cesar Amaral

5 comentários:

  1. Respostas
    1. Olá Ceni, a Paz do Senhor Jesus!

      Que bom. Espero que este estudo tenha levado edificação para sua vida.

      Que Deus continue te abençoando!

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  2. Graça e paz, PC Amaral! Concordo com seu ponto de vista, creio assim tb. E creio que a Bíblia não se contradiz. Contudo, existe um versículo que não consigo compreender à luz desse nosso entendimento: 1 Jo 3:6b - "todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu".

    Segundo o nosso entendimento, um apóstata viu e conheceu Jesus um dia, no entanto vive pecando. Isto contradiz 1 Jo 3:6b, que acabei de citar.

    Como o senhor explica tal contradição?

    Desde já, obrigado pela sua atenção.

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  3. Distintos irmãos e irmãs,

    Vocês sabiam que aqueles que cairam, em Hebreus 6.4-8, não eram os cristãos?

    Não fazia sentido, para mim, o fato de que os salvos, judeus e gentios que foram selados com o Espirito Santo da promessa para o dia da redenção desde pentecostes, pudessem cair da graça.

    Então, surgiram algumas perguntas:

    Será mesmo que esse texto se refere aos cristãos?

    Não haveria um outro grupo de pessoas a quem o autor de hebreus se referia, fazendo assim mais sentido para nós?

    "aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram do dom celestial e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram", não seriam os judeus que rejeitaram a Jesus?

    A carta aos Hebreus foi destinada aos cristãos que estavam fraquejando (2.1; 10.35; 12.12,13) em virtude das provações (seus bens eram tirados, etc) e estavam sendo tentados a voltarem ao judaísmo. Por isso, o autor dedica tanto espaço ao tema dos ritos judaicos e exalta a supremacia da obra de Cristo.

    Agora, compare Hebreus 6.4-8 com:

    a) Atos 4.11: “Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular”;

    b) Romanos 9.4,5: "são israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne...";

    c) Romanos 9.31,32: "e Israel, que buscavam a lei de justiça, não chegou a atingir essa lei. Por quê? Porque não decorreu da fé, e sim como que das obras. Tropeçaram na pedra de tropeço” (ou seja, cairam);

    d) Romanos 10.3,4: "porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus. Porque o fim (finalidade, destino, chegada) da lei é Cristo, para justiça de todo a aquele que crê"; e

    e) João 1.11: "veio para o que era seu e os seus não receberam."

    Uma vez que esses judeus não reconheceram Jesus de Nazaré como o messias e o seu sacrificio, como unico e suficiente, é impossível renová-los outra vez para arrependimento. Mais uma vez crucificaram a Cristo e o expôs ao desprezo!

    Os judeus que caíram (tropeçaram na pedra de tropeço) são "a terra que produziu espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada" (6.8).

    À luz destas comparações e da mesma forma que:

    a) Jesus, em Mateus 16.5, alertava aos seus discípulos a tomarem cuidado com o fermento dos fariseus e saduceus;

    b) Paulo, se referindo aos judaizantes, alertava aos galatas que "ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema" (Galatas 1.8); e

    c) na carta a Igreja da Filadélfia, por meio de João, Jesus diz que os judaizantes que pertubavam a Igreja eram da sinagoga de satanás (Apocalipse 3.9),

    Concluímos e podemos afirmar três coisas:

    1º. o termo “aqueles” se refere aos judeus que foram iluminados (conheceram o EU SOU), e provaram do dom celestial (ministério sacerdotal) e se tornaram participantes do Espírito Santo (que visitava o povo por meio dos profetas, sacerdotes e reis ungidos), e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro (sinais e maravilhas de Deus no deserto), mas não reconheceram Jesus (a pedra angular)";

    2º. o Autor da carta aos Hebreus usa este texto a fim de exortar aos cristãos (judeus e gentios) a se afastarem do judaísmo; e

    3º. O texto não se refere, de forma nenhuma, à possibilidade dos cristãos (judeus e gentios) cairem da graça.

    Agora, sim, fez mais sentido para mim. Espero que tenha colaborado para que os calvinistas possam ler Hebreus mais tranquilos.

    Jesus disse aos Judeus que não "queriam" seguir a Jesus: "ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer." (João 6.44,65).

    A Deus toda a glória.

    Em Cristo, que nos guardará até o fim

    Sidney Muniz Durão

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  4. A PAZ. Quem cai da graça não tem perdão?

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