Absolutamente nada!


É muito duro este discurso: nada trazemos ao chegar e nada levamos ao sair!

O primeiro a discursar sobre o assunto é o patriarca Jó. Depois de perder todos os bens que possuía e todos os filhos, o homem da terra de Ur ajoelha-se diante de Deus e diz: “Nasci nu, sem nada, e sem nada vou morrer” (Jó 1.21).

O segundo é o salmista. Depois de lembrar que ninguém escapa da morte, o profeta afirma: “Não se preocupem quando alguém fica rico, e a sua riqueza aumenta cada vez mais. Pois, quando morrer, ele não poderá levar nada; a sua riqueza não irá com ele para a sepultura” (Sl 49.16-17).

O terceiro é o autor do livro de Eclesiastes. Depois de mencionar algumas das ilusões da vida, o sábio escreveu: “Como entramos neste mundo, assim também saímos, isto é, sem nada. Apesar de todo o nosso trabalho, não podemos levar nada desta vida. Isso também é muito triste! Nós vamos embora deste mundo do mesmo jeito que viemos. Trabalhamos tanto, tentando pegar o vento, e o que é que ganhamos com isso? O que ganhamos é passar a vida na escuridão e na tristeza, preocupados, doentes e amargurados” (Ec 5.15-17).

O quarto é Paulo de Tarso. Depois de afirmar que a religião ou a espiritualidade é uma fonte de muita riqueza, o apóstolo pergunta e responde: “O que foi que trouxemos para o mundo? Nada!” (1Tm 6.7).

É sempre nada! Nada! Absolutamente nada! Fatidicamente nada! Horrivelmente nada! Decepcionantemente nada!

A roupa do corpo e o corpo. A casa da cidade, a casa da montanha e a casa da praia. O carro e o celular. O RG, o CPF, os cartões de crédito, o seguro de saúde e a aposentadoria. A academia e o SPA. O computador e a televisão. As estantes cheias de livros e o álbum cheio de fotografias. A família e os amigos. O patrimônio histórico e a fama. Os diplomas e as medalhas. Os amores e as amarguras. E tudo mais que possa existir divorciado da espiritualidade. É por isso que Paulo aconselha a Timóteo nesta mesma epístola: “Para progredir na vida cristã, faça sempre exercícios espirituais. Pois os exercícios físicos têm alguma utilidade [temporal], mas o exercício espiritual tem valor para tudo porque o seu resultado é a vida, tanto agora como no futuro” (1Tm 4.7-8).

O patrimônio temporal é patrimônio temporal. Ele fica, não acompanha a pessoa que morre. Mas a riqueza da alma – as convicções, a fé, a comunhão com Deus, a certeza da salvação, a esperança – não apodrece com o corpo nem vira pó. Ela atravessa a morte e segue em frente. Sai do tempo e entra na eternidade. Por ser uma rica bagagem, agregada à alma e não ao corpo, ela não vai para a tumba.

Quando o discurso religioso insiste na pergunta “o que vamos levar do mundo” e insiste na resposta “nada, absolutamente nada!”, ele não está machucando ninguém. Está simplesmente reforçando o discurso de Jesus: “Não ajuntem riquezas aqui na terra, onde as traças e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam. Pelo contrário, ajuntem riquezas no céu, onde as traças e a ferrugem não podem destruí-las, e os ladrões não podem arrombar e roubá-las” (Mt 6.19-20).

É um discurso amigo! E terapêutico!


Fonte:
Revista Ultimato

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