A Fé que Supera Provações


A carta escrita por Tiago é considerada uma das mais práticas epístolas do Novo Testamento: Ele começa, continua e termina a carta mostrando que a fé cristã autêntica vai além da teoria. A fé ensinada por Tiago é prática porque supera provações (1:1-4), valoriza o ser (1:9-11), discerne tentações (1:12-15), controla o temperamento (1:19-21), pratica a palavra (1:1-25), não apóia o favoritismo (2:1-13), manifesta-se nas obras(2:14-26), domina a língua (3:1-12), produz separação do mundo (4:1-10), rejeita a autosuficiência (4:13-17), espera a vinda do Senhor (5:7-12), acode o doente (5:13-18) e restaura o desviado (5:19-20).

Neste estudo iremos analisar a fé que enfrenta e supera provações, assunto tratado por Tiago logo no início da carta (1:1-3). De capa a capa, a Bíblia ensina que os servos e as servas de Deus passam por provações. Ela, porém, não ensina somente a realidade das provações. Vai além. Mostra-nos como enfrentá-las sabiamente. Trata-se de um ensino proveitoso. Se forem mal enfrentadas, as provações podem levar-nos ao álcool, às drogas, ao desespero, à depressão, à apostasia, à descrença. Se bem enfrentadas, porém, podem levar-nos ao crescimento, à santidade, à maturidade, à perseverança. Vale a pena, fazer a leitura deste estudo.

Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. (Tg 1:2-3)

I - Entendendo a mensagem

Logo no início da carta, o autor se identifica com simplicidade: Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo (Tg 1:1a). Se quisesse, poderia se apresentar como “apóstolo” (Gl 1:19). Preferiu se descrever como “escravo”. Ainda que a sua pessoa e a sua palavra tivessem grande conceito na igreja primitiva (At 12:17, 15:13-22, 21:18), não era um homem orgulhoso, soberbo, vaidoso. Designa-se não como senhor, mas como servo do Senhor da Igreja e da Igreja do Senhor, o seu irmão (Gl 1:19; Mt 3:5) [1]. Ele não quis ser apóstolo! Que lição para a nossa época, em que muitos irmãos, em todos os níveis, brigam por posições e títulos na igreja de Cristo.

Na segunda parte do primeiro versículo, Tiago apresenta o destinatário da sua carta: às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações (Tg 1:1b). Os leitores originais da carta de Tiago eram cristãos judeus que viviam fora da Palestina e que sofriam perigosas perseguições. Por causa disso, Tiago se propõe a ensinar seus irmãos em Cristo a enfrentá-las adequadamente, dizendo: Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança (Tg 1:2-3). O que Tiago quer transmitir aos seus leitores com estas palavras? Ele deseja explicar-lhes a natureza das provações, como vemos abaixo.

As provações são imparciais

Por favor, preste atenção ao começo do primeiro versículo. De que forma Tiago se dirige aos leitores? Chamando-os de meus irmãos. Por que é importante enfatizar este tratamento? Porque indica quem vinha sendo atingido por provações: crentes em Cristo. Quem anda com Cristo, não está isento nem imune de passar por provas (Ap 1:9). As provas não fazem acepção de pessoas; atingem a todos, quer sejam justos, quer sejam ímpios (Jó 1:1). Neste sentido, um dos maiores enganos pregados na atualidade é o de que crente não sofre. Isto não é evangelho. Crente sofre, sim! E como sofre! O texto de II Co 11:23-27 confirma essa verdade.

As provações são freqüentes

Ao traduzir o segundo versículo do primeiro capítulo da carta de Tiago, a versão de Almeida, Revista e Atualizada, omitiu o termo grego “hotan”, que figura entre as palavras alegria e passardes. A NTLH o traduziu por quando: Meus irmãos, sintam-se felizes quando passarem . No lugar de quando ficaria melhor se fosse sempre que ou toda vez que, outra tradução possível, sugerida pelo Léxico do Novo Testamento [2]. Por que um termo tão pequeno é relevante? Porque mostra que as provações são repetitivas, freqüentes. Ao longo da sua vida cristã, você sempre enfrentará provações. Ninguém fica livre delas por muito tempo. Acontecem quase uma após a outra (Jó 1:13-19).

As provações são imprevisíveis

Atente para o verbo passardes. Ele foi traduzido de peripipto [3], que, de acordo com Léxico do Novo Testamento, poderia ser traduzido também por cairdes [4], no sentido de cair sem planejar. Tiago não usou esse termo grego por acaso. Ele quis mostrar aos irmãos que as provações são repentinas. Elas jamais podem ser agendadas, previstas. O homem que descia de Jerusalém para Jericó não imaginava que passaria por provação. Mas, sem que esperasse, ele veio a cair em mãos de salteadores, os quais lhe roubaram e lhe bateram (Lc 10:30).

As provações são variadas

Tiago ensina que o crente deve se alegrar sempre que passar por várias provações (II Co 6:4-5). Várias foi traduzido de poikilos [5], cujo significado é: de vários tipos, diversificado, múltiplo [6]. Conhecer uma provação não significa conhecer todas as provações, porque cada provação é específica. Deus quer que sejam assim. Se fossem todas iguais, com o passar do tempo, o crente seria capaz de vencer todas, por si mesmo, sem buscar a ajuda de Deus. Em meio às provações variadas, ficamos mais dependentes de Deus. Diante delas diremos como Josafá: ... em nós não há força para resistirmos a essa grande multidão que vem contra nós, e não sabemos nós o que fazer; porém os nossos olhos estão postos em ti (II Cr 20:12).


As provações são propositais

Tiago ensina que, além de serem imparciais, freqüentes, imprevisíveis e variadas, as provações são propositais: sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança (Tg 1:3). As provações não são acidentais. Deus tem em mente um propósito, ao permitir ou conduzir-nos às provações. Nada é por acaso (Gn 45:5; Fp 1:12-14). O sentido da palavra “provação” do terceiro versículo é diferente da palavra “provação” do segundo versículo. No segundo versículo, a palavra é peirasmos e, no terceiro, é dokimion. A palavra peirasmos (Tg 1:2) tem o sentido de “purificar/retirar a impureza” e dokimion (Tg 1:2) tem o sentido de “examinar/atestar a validade”.

Esses dois propósitos são claramente explicados na primeira carta de Pedro, o único outro lugar em que dokimion aparece [7] no Novo Testamento:

Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações [peirasmos], para que, uma vez confirmado [dokimion] o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado [dokimion] por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo. (I Pe 1:6-7)

Em suma, Tiago ensina que Deus nos submete às provações, em primeiro lugar, para “purificar” a impureza da nossa fé e, em segundo lugar, para “examinar” a validade da nossa fé.

II - Aplicando o conhecimento em nossa vida

A fé que supera provações não se entrega à auto-suficiência

Por serem imparciais, freqüentes, imprevisíveis e variadas, as provações são humanamente impossíveis de se administrar. Elas são maiores do que nossas forças. Mesmo assim, muitas vezes, comportamo-nos como aqueles discípulos de Jesus que enfrentaram uma assustadora tempestade no lago da Galiléia: com autosuficiência (Mc 4:35-41). Com certeza, eles se esforçaram para contornar o problema, para saírem ilesos da tempestade. Mas nada puderam fazer para enfrentar a fúria do vento. Seus esforços não puderam vencer o problema. O problema era maior do que sua capacidade de resolvê-lo. Eles precisaram clamar a Jesus.

Há problemas que nos deixam com uma profunda sensação de impotência. Não temos força para resistir à fúria dos ventos e à força das ondas. O que fazer? Tiago ensina que quem enfrenta provações, precisa suplicar a intervenção de Deus: Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. O que devemos pedir na oração? Sabedoria. Em tempos de provação, nossa tendência é suplicar por livramento divino. Deus, porém, quer dar-nos mais que seu livramento – quer dar-nos a sua sabedoria. Na hora da provação, sentimo-nos perdidos – sem sabermos qual caminho seguir, qual decisão tomar, qual palavra falar, qual conduta adotar. A sabedoria divina irá ajudar-nos a fazer o que for mais justo, certo e santo.

A fé que supera provações não se entrega à auto indagação

Os primeiros leitores da carta de Tiago estavam enfrentando a provação da perseguição. Em At 8:1-4, lemos que os crentes da igreja de Jerusalém foram dispersos por diferentes lugares, por causa da grande perseguição. Estevão havia sido apedrejado por pregar o nome de Cristo e outras vidas estavam sendo ameaçadas. Por isso, fugiram da cidade para poupar suas vidas. Nesta dispersão, porém, foram por todas as partes pregando o evangelho. Tiago escreveu exatamente para estas pessoas. Ele começou a carta dizendo: Tiago (...) às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações (Tg 1:1). Você consegue se colocar na posição desses irmãos?

Tente imaginar as indagações que devem ter passado pela mente de cada um: “Será que vale a pena seguir a Cristo?” “Por que ter uma fé que me obriga a mudar de lugar em lugar?” “Não seria melhor largar o Cristianismo e voltar ao judaísmo?” Estas auto-indagações são perigosas e venenosas, pois podem encher o coração de amarguras, de revoltas, de dúvidas, de irritações contra Deus. Podem ainda nos levar a questionar o caráter, a justiça, a bondade, a soberania de Deus. Se você ficar com vontade de auto indagar-se, durante as provações, utilize as palavras do salmista: Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu (Sl 42:5). Elas podem livrá-lo de dizer: Adeus, Deus!

A fé que supera provações não se entrega à autopiedade

Quem passa por provações, está sujeito a desenvolver autopiedade, que é sentir pensa de si próprio. Vive se justificando, se explicando, se defendendo. Faz-se vítima, a pior possível, até se tornar único em seu sofrimento. Acha-se rejeitado e esquecido pelos outros. Dramatiza e aumenta as suas doenças e dores. Ignora, conscientemente, o preciso recado do salmista ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã (Sl 30:5). Torna-se aborrecido, implicante, invejoso, ciumento. Perde a perspectiva, a esperança, a criatividade, a tenacidade, o compromisso. O exemplo mais conhecido de autopiedade na Bíblia é o do profeta Elias (I Rs 19).

Para que você não se entregue ao destrutivo sentimento da autopiedade, enfrente as provações com atitude positiva: Meus irmãos, sintam-se felizes quando passarem por todo tipo de aflições. Esse é o antídoto de Deus para que você não sinta pena de si mesmo, quando passar por aflições, testes, pressões, doenças. Aparentemente, esta ordem de Tiago é confusa e estranha. Não nos parece razoável nem possível alguém que fique alegre, ao passar por problemas. Como entender isso? De fato, as provações, em si, não são agradáveis, mas é o passar por estas provações autorizadas e governadas por Deus que traz benefícios ao nosso desenvolvimento emocional e espiritual. Entendendo assim, podemos ficar felizes, quando passarmos por provações, pois a experiência nos fará bem.

Concluindo

O crente em Jesus não está livre de passar por provações. Vimos, que elas são imparciais, freqüentes, imprevisíveis, variadas e propositais. De todas as características das provações, a que mais deve ser lembrada por nós é esta: as provações são propositais. Guarde isto no coração, prezado estudante: as coisas que acontecem com você não são frutos da casualidade. Há um propósito divino por traz da provação que você vem enfrentado ultimamente (Jó 42:1). Lembre-se de mais uma coisa ainda: Deus é bom, sempre bom. Às vezes, não conseguimos enxergar ou entender a bondade de Deus nas provações da vida, mas, mesmo assim, Deus continua sendo sempre bom.
Havia um súdito que dizia sempre para o rei que Deus é bom. Um dia, saíram para caçar; um animal feroz atacou o rei e ele perdeu o dedo mínimo. O súdito ainda lhe disse: Deus é bom. O rei mandou prendê-lo. Em outra caçada, o rei foi capturado por índios antropófagos – que se alimentam de carne humana. Na hora do sacrifício, o cacique percebeu que ele era imperfeito, porque lhe faltava um dedo. O rei foi solto; chegou para o súdito e disse-lhe: É verdade; Deus é bom. Mas por que eu lhe mandei para a prisão? O súdito respondeu: Porque se estivesse contigo, eu seria sacrificado.

As provações não anulam a bondade de Deus, pois a bondade de Deus dura para sempre (Sl 52:1).





Referências bibliográficas:

[1] CARSON, D. A., MOO, Douglas J., MORRIS, Leon Morris. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1977, p. 454

[2] GINGRICH, F. W. & DANKER F. W. Léxico do Novo Testamento Grego-Português. São Paulo: Edições Vida Nova, 1984, p. 150.

[3] Concordância Fiel do Novo Testamento. (AUTOR? ORGANIZADOR?) São Paulo: editora Fiel, 1994, volume 01, grego-português, p. 641,

[4] GINGRICH, F. W. & DANKER, F. W. Léxico do Novo Testamento Grego-Português. São Paulo: Edições Vida Nova, 1984, p. 164.

[5] Concordância Fiel do Novo Testamento. São Paulo: editora Fiel, 1994, volume 01, grego-português, p. 664.

[6] GINGRICH, F. W. & DANKER F. W. Léxico do Novo Testamento Grego-Português. São Paulo: Edições Vida Nova, 1984, 170

[7] MOO, Douglas J. Tiago, introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1985, p. 60.


Fonte:
Genilson Soares da Silva - Estudo sobre a fé baseado na Espístola de Tiago

2 comentários:

  1. Olá pc acabei d epromover seu blog no meu orkut pode? estava eu lá no meu orkut de repente ,e aparece para promovaaa srrs aí promovi ta bom??

    ResponderExcluir

Todos os comentários serão moderados. Comentários com conteúdo fora do assunto ou do contexto, não serão publicados, assim como comentários ofensivos ao autor.

Tecnologia do Blogger.