Amem-Se Ainda Mais

Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados. Sede, mutuamente hospitaleiros, sem murmuração. Servi uns aos outros. (I Pe 4:8-10a)

Acumular dinheiro, patrimônio e fazer fama têm sido a grande preocupação de muitas pessoas. Quando procedem assim, o fazem como se a vida na terra fosse eterna, como se tivessem o controle absoluto do futuro. Pelo fato de não saberem “o dia e a hora”, agem como se a existência do homem se resumisse apenas aos dias presentes. Quando pensam em ganhar dinheiro, é para seu prazer; quando buscam a fama, é para satisfazer o ego. Assim é o homem atual: egoísta, egocêntrico, materialista, preocupado apenas com as coisas relacionadas à vida presente.

O cristão, ao contrário de cultivar o materialismo e o egocentrismo, sabe, pela fé, que há algo muito melhor reservado para o futuro. Pelo fato de não saber “o dia e a hora” sabe que o “fim” está perto e sente a necessidade constante de “vigiar” com grande expectativa para que esteja preparado para o grande momento quando o filho do homem aparecerá “nas nuvens do céu”. Alguns cuidados importantes com os quais o cristão não deve se descuidar serão abordados agora:

I. PERSEVERANDO ATÉ O FIM

O apóstolo Pedro ao escrever aos cristãos da Ásia Menor, exterioriza uma de suas preocupações: como viver nos dias do fim. Então ele diz: O fim de todas as coisas está próximo (I Pe 4:7). Precedendo acontecimentos marcantes, é comum deixar-se envolver por temores e especulações. Como o fim está próximo, os cristãos precisam ser equilibrados na mente, nas emoções e nas atitudes, e devem ainda demonstrar verdadeiro amor cristão. Estimulando-os a serem habilidosos nestas áreas, o apóstolo ensina que o cristão, ao mesmo tempo em que olha para futuro, também deve viver com os pés no chão.

1. Amem-se intensamente: O segredo para o equilíbrio cristão é relacionar-se bem com o Senhor Jesus. Em tempos difíceis o crente não deve permitir que o medo ou a instabilidade perturbe sua comunhão com Deus, de maneira a prejudicar sua vida de oração (I Pe 4:7b) [Macdonald (2008:931)]. Pedro experimentou na prática como o medo, a curiosidade ociosa e a empolgação negligente o levaram a falhar na vigília e na oração (Mt 26:36- 45;69-75). Vigiar e orar são recomendações bíblicas (Mc 13:33;14:38; Ef. 6:18; Cl 4:2). Além de prezar pela comunhão com o Salvador, é preciso valorizar o relacionamento com os irmãos. Acima de tudo (v.8), é alusão ao ensino de Jesus: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mt 22:37-39), e Amai-vos uns aos outros (Jo 13:34). Ele ainda afirma: Tende amor intenso uns para com os outros (I Pe 4:8). Pedro usa a palavra grega ektene que literalmente significa “forçado” e é traduzida por intenso. O termo é usado para descrever atletas que, dando o melhor de si para alcançar a linha de chegada, inclinam, inclusive, o corpo para frente com o objetivo de conseguir melhor desempenho [Swindoll (2002:174)]. Mais que em qualquer época, é preciso persistir na demonstração de amor para com o próximo. Amar ao próximo pode não ser tão simples como muitos gostariam; pode ser, de fato, uma atividade árdua. Pedro segue o exemplo de Cristo ordenando que os cristãos “amem-se”. Mais que emoção, amar é uma decisão que leva à ação. É preciso se esforçar o mais possível para amar a quem não se gosta e se esforçar para amar desinteressadamente. É, aprender com o atleta que força todos os seus músculos para alcançar o objetivo. Quando Pedro diz: tende amor intenso, fica claro que aqueles irmãos já se amavam, porém ele os ensina: Amem-se ainda mais, persistam em demonstrar amor.

2. Amem-se sabiamente, frente ao pecado alheio: A exemplo de Tiago (Tg 5:20), Pedro cita Provérbios 10:12. Ele escreve: porque o amor cobre multidão de pecados (I Pe 4:8). Seria grave erro teológico pensar que esta afirmação seja referencia sobre como se recebe perdão dos pecados. Nem quem ama e nem quem é amado é perdoado por causa deste amor. Tanto a culpa como o castigo pelo pecado só serão removidos pelo sangue de Cristo (I Jo 1:7-9). Também não significa que o crente deva ser conivente com o pecado do outro ou que a igreja não deve praticar biblicamente a disciplina do transgressor. “O amor cobre multidão de pecados”, ensina que quem ama de verdade não terá prazer em apontar erros do próximo. Antes, se entristece ao vê-lo magoar a si mesmo e aos outros com seus pecados. Fofoqueiramente alguns dão detalhes dos erros alheios apenas na tentativa de destruir-lhes a reputação (Pv 11:13; 17:9), e fazem isso dando um ar de “espiritualidade”, dizendo que só estão falando para que o ouvinte ore especificamente. Isto é maledicência e, portanto, pecado (I Pe 2:1). Por amor o cristão não fala dos pecados do outro aos que nada podem fazer para ajudar, em especial para os incrédulos. Os ímpios gostam de aproveitar cada oportunidade para usar o máximo de informações possíveis contra os cristãos. Por amor a Deus, à igreja e aos irmãos, o cristão evita dar munição ao inimigo para que este a use contra os projetos de Deus. O amor cobre como um manto o pecado, não para negá-lo, mas para extinguir a discórdia e evitar mais pecado. O mais forte testemunho dos cristãos é sua unidade em amor (Jo 17:21,23; Sl 133:1-3), e o pior testemunho é quando se revoltam e golpeiam-se uns aos outros. O amor capacita a ser compreensível para com os pecados alheios.

3. Amem-se com atitudes: Os leitores iniciais destas recomendações de Pedro viviam em tempos de perseguição. Eram tempos difíceis: escassez de alimentos, escassez da hospedagem, não havia redes hoteleiras e eram poucas as pousadas; a violência predominava e, para os cristãos, por causa das perseguições, os recursos eram mais escassos ainda [Wiersbe (2008:545)]. Quando um cristão estava fora de casa, precisava contar com a demonstração sincera de amor dos irmãos em Cristo. Diante desta realidade, a recomendação do apóstolo é: Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração (I Pe 4:9). Praticar a hospitalidade com alegria é demonstração de amor. Em especial naqueles dias era uma necessidade, até por causa do risco de prisão e até morte para quem recebesse em casa cristãos [Macdonald (2008:931)]. É honroso ser hospitaleiro. Nesta prática, alguns acolheram anjos (Hb 13:2). O Senhor Jesus Cristo garante que estas ações quando praticadas para com seus filhos, são consideras práticas para com Ele mesmo (Mt 25:40;10:40-42). Ninguém deve ser hospitaleiro esperando recompensa (Lc 14:12). Deve receber aos irmãos por bondade, amor e obediência a Cristo, o Senhor absoluto da Igreja. A pratica da hospitalidade é recomendada desde o Antigo Testamento (Êx 22:21; Dt 14:28,29). Jesus e os apóstolos desfrutaram dela. A recomendação apostólica é para ser hospitaleiro “sem murmuração.” Sem sentir como se fosse um fardo. “Os cristão devem ser hospitaleiros [...] sem murmurações, mesmo que isso signifique um peso adicional para eles. Reclamar do preço rouba as bênçãos de compartilhar com nossos irmãos.” [Beacon (2006:239).]. O amor deve ir além da teoria, deve ser prático. “O lar deve ser compartilhado com outros e a generosidade deve ser exercida (sem queixas) no exercício da hospitalidade” [Wiersbe (2008:545)].

4. Amem-se servilmente: Aqui há três situações a serem analisadas. A primeira está relacionada ao uso dons: Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu como bons despenseiros da multiforme graça de Deus (I Pd 4:10). A afirmação: “cada um”, significa que todo crente tem ao menos um dom e o objetivo é: Servi uns ao outros (v.10). Deus não dá dons ao homem com o propósito de promoção pessoal; o objetivo é o serviço em favor do próximo. “Multiforme” significa multicor ou matizada, ou ainda “magnificamente variada” [Macdonald (2008:931)]. Refere-se às várias maneiras como Deus usa Seus filhos. A segunda é que os dons devem ser usados de acordo com a Palavra de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre (I Pe 4:11). Todo aquele que faz uso da palavra para comunicar a vontade de Deus, como pregadores e professores, devem ser zelosos para ensinarem de acordo com a Palavra de Deus e não expressar suas opiniões ou filosofar sobre a vida. O que vale não é o que o pregador pensa, mas o que a Palavra de Deus diz. Quando o crente serve, não deve fazê-lo por conveniência, mas de acordo com as Sagradas Escrituras. A terceira, é preciso ficar atento ao objetivo final do serviço cristão: para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo (I Pe 4:11). O crente recebeu dons de Deus, e como bom mordomo deve usá-los em benefício comum. Deve agir “como bons despenseiros”. Pega o que há na despensa do Seu Senhor e distribui conforme a necessidade (não conforme os desejos) de cada um. Quando isto é feito fielmente, Deus é glorificado. O objetivo final do serviço cristão é a gloria de Deus. A grande preocupação do servo de Cristo não é vantagem pessoal e sim a glória do seu Senhor. O fim de todas as coisas está próximo (I Pe 4:7).
Enquanto Cristo não volta para buscar Seu povo, o crente deve manter sua vida aqui na terra de maneira digna e que honre ao seu Senhor. Geograficamente vive como os demais homens, mas por causa da expectativa que tem do futuro, se distingue deles. O cristão vive no mundo como todos os demais homens, mas deve superá-los na maneira como se relaciona com o próximo, como se porta em relação a Deus e aos homens, e como vive disposto a servir.
II. PRATICANDO A PALAVRA DE DEUS

Os cristãos devem amar uns aos outros com intensidade - É possível que em sua igreja exista gente arrogante, teimosa, agressiva, falsa, mentirosa, mandona, bajuladora, enfim, gente de difícil convivência. O desafio é viver bem com todo esse tipo de gente, porque amar somente aos que retribuem amor é fácil, qualquer um faz (Mt 5:46). A recomendação para amar intensamente sugere a necessidade de se esforçar para desenvolver amor às mais diferentes e até difíceis classes de pessoas. Da próxima vez que uma dessas pessoas o ofender ou irritar, pense em como seria a melhor maneira de encarar a situação.

Os cristãos devem entender uns aos outros com ternura - Por mais de meio século Deus foi paciente com os pecados de Manasses (II Cr 33:1-9); paciência que foi recompensada pela conversão deste (II Cr 33:12-13). A tendência humana é de impaciência para com as fraquezas alheias. Sempre existirão pessoas que cometerão erros grotescos, e se Deus permite que você esteja próximo a elas, algum propósito há nisso. Pode ser que Deus esteja lhe dando a oportunidade de amar com sabedoria apesar dos graves pecados (Rm 14:1). Ao invés de denunciar irresponsavelmente as fraquezas, seja sábio em demonstrar amor.

Os cristãos devem servir uns aos outros com humildade - Você foi chamado para ser um dos bons despenseiros da multiforme graça de Deus (I Pe 4:10). Multiforme se refere às diferentes maneiras como Deus usa Seus filhos. Talvez o serviço que você presta a Deus e a Seu povo seja uma espécie de trabalho de bastidores; ninguém vê, ninguém elogia. Talvez nem mesmo quem seja beneficiado sabe que o é por seu intermédio. Não se preocupe se não for reconhecido pelo homem, faça tudo para a glória de Deus (I Co 10:31; I Pe 4:11). A humildade e a fidelidade de quem serve glorificam a Deus (Jo 3:30; Is 42:8).

CONCLUSÃO

A volta de Cristo é um evento futuro e que de acordo com a Bíblia Sagrada acontecerá infalivelmente. Enquanto aguarda este mega evento, o crente deve crescer ainda mais na prática do amor. Amar intensamente é amar apesar das dificuldades, das adversidades, é amar com generosidade, é amar a quem não merece. Amar é também suportar as fraquezas dos fracos, é praticar a hospitalidade, é servir aos outros com humildade, sabendo que o fim último do serviço cristão é a glória de Deus. A maneira mais acertada de como o povo de Deus deve aguardar esse maravilhoso dia é crescendo no amor. Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos (Hb 6:10). Sabendo que a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos (Rm 13:11), o crente precisa viver nestes dias com toda sabedoria certo de que nenhum ser humano tem a eternidade para colocar em prática as verdades da vida cristã. O que precisa ser feito, precisa ser feito logo. Servir e amar são a melhor maneira de viver o tempo que nos resta aqui na terra.

Que Deus nos abençoe!

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DEC - PC@maral

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